sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Futebol


Sim, já sei que não tenho escrito no blog!
Sim, eu sei que têm sentido a falta dos meus textos!
Sim, prometo que voltarei a escrever com frequência!



Bem, passando a parte em que peço interminavelmente desculpa por ter abandonado o mundo da blogosfera por uns tempos, tenho-vos a dizer que valeu a pena esta ausência porque as minhas férias foram absolutamente fantásticas. Entre Porto Covo, Albufeira, Lisboa ou Praia da Barra; entre festas, jantares, saídas à noite e dores de cabeça no dia seguinte, aconteceu-me algo que nunca esperei que me acontecesse e foi apenas há uns dias atrás. Estão prontos? Tornei-me benfiquista.


É verdade. Eu nunca tinha entendido muito bem o mundo de futebol. Sempre me meteu confusão o facto de o desporto-rei estar incluído na máxima de Salazar “Fado, Futebol e Fátima”. Afinal o que tem de tão especial este jogo que movimenta multidões?



Antigamente, o que me ocorria quando alguém falava em futebol era a imagem de um jogo idiota em que 22 jogadores correm 90 minutos atrás de uma bola que estupidamente não conseguem colocar dentro de uma baliza cujo comprimento vai de uma ponta a outra de minha casa. Intrigava-me o facto de haver tanta gente a ser paga só para jogar um desporto tão simples e rudimentar.


Sempre fui daqueles que não tomava parte nas discussões sobre futebol. Clubes, resultados, faltas, penalties, árbitros, cartões vermelhos, transferências ou treinadores…nada disso fazia sentido na minha cabeça. Não me interessava nem um pouco. Acho que nunca soube mais do que três jogadores do Benfica e sempre fui aquele ignorante que perguntava inofensivamente o que era um fora de jogo. Nunca obtinha resposta, apenas uns quantos olhares reprovadores. Comecei a não perguntar nada e a concordar com a maioria nas tais discussões de café (sem fundamentar a minha opinião, claro!).


Sempre considerei o futebol um mundo machista, ao qual os homens atribuíam demasiada importância. Hoje em dia o futebol serve de desculpa para tudo. Quando joga o Benfica ou qualquer outro clube dos grandes, não interessa se há casamentos, baptizados, funerais, o aniversário da mulher ou qualquer outro assunto de maior importância. O futebol está sempre em primeiro lugar. A agenda fica à partida preenchida com o horário do emprego e o horário das jornadas. Não há fins-de-semana. Sai-se da praia mais cedo porque dá o Benfica. Adia-se a ida ao médico porque dá o Benfica. Não se vai jantar fora porque dá o Benfica. Já para não falar dos dias em que decidem não só acompanhar o jogo do Glorioso, como o de todos os outros clubes, mesmo de ligas internacionais. Desde que o Cristiano Ronaldo foi para o Manchester ou o Mourinho para o Chelsea, que se tornou imperativo acompanhar todos os passos do futebol mundial.


Uma vez cheguei mesmo a ir assistir a um jogo ao estádio do “Glorioso”. Acho que foi mais um esforço do meu pai e dos meus irmãos para me converterem num benfiquista ferrenho. Não deu resultado. Quando cheguei à bancada perguntei-me o que raio ía eu ver daquela distância, o relvado?! Tentei integrar-me no ambiente de excitação e emoção em que se encontrava toda a gente à minha volta, mas foi-me totalmente impossível. Já para não falar de todos aqueles cânticos asneirentos que sempre considerei desnecessários… Acho que foi o dia em que bati mais palmas sem saber o motivo. Nunca percebi porque é que os adeptos aplaudem mesmo quando o jogador falha o golo! Tudo bem, foi boa a jogada, mas falhou! Querem que falhe outra vez?


Bem, mas tudo isto foi antes! Rendi-me finalmente ao mundo de futebol. Comecei por ver um jogo no outro dia, acompanhado de uma cervejinha e de uns tremoços, ladeado pelos meus primos. E não é que gostei? Passado meia hora já nem me reconhecia. Dei por mim nervoso quando a bola se aproximava da nossa baliza e soltei mesmo uns valentes “ahh” de insatisfação quando falhávamos. Talvez tenha sido demasiado crítico durante toda a minha adolescência. Dei uma oportunidade ao futebol e resultou. Espero, contudo não chegar à fase dos palavrões e é obvio que não irei abdicar de um fim-de-semana romântico apenas porque dá jogo… Mas ver um jogo quando posso não ofende ninguém e até é divertido.


E eu, que sempre fui o estúpido que não sabia o que era um fora de jogo…Quem diria!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Amor-Perfeito.


Quando julgamos ter encontrado a pessoa certa, que preço estamos dispostos a pagar para a contemplar?

É fácil listar as características que esperamos encontrar na pessoa ideal. O meu por exemplo, será culto e inteligente, defenderá a maior parte dos princípios que eu também defendo, terá senso de humor e sensatez, terá objectivos na vida e saberá adequar-se à maioria das situações e ser justo e imparcial. Será sensível e terá uma veia artística.
Tal como eu defini um perfil do que pretendo, também todos os outros podem ter.

E quando encontramos a pessoa que corresponde nas medidas certas à descrição que fizeram?


Quando suspiramos e reviramos os olhos ao ver o rosto que admiramos, quando ficamos nervosos apenas porque vamos estar algumas horas juntos, quando cada casal que vemos nos faz lembrar a pessoa da qual sentimos falta e quando o futuro apenas parece fazer sentido ao lado desse ser?
Seremos capazes de esquecer que aquele sentimento não é possível e seguir em frente?

Ou ficaremos parados, ansiando uma só palavra ou um só gesto que dê ânimo à espera interminável que iniciámos? Ou ficaremos presos a alguém que, por nenhuma culpa, não sente o mesmo, aprisionados na nossa própria amargurada consciência, de que não estamos felizes assim, mas que a simples mudança, pode deitar para trás a pessoa que julgámos capaz de nos fazer felizes para sempre?

Será suficiente a admissão da infelicidade para pôr fim a uma devoção unilateral? Sim. (Quando o deus que admiramos não é de facto o que idealizámos.) Nem por isso. (Quando o rosto divino que ansiamos, parece merecer cada sórdido sacrifício.)

Masoquismo? Absoluto.
Mas não será também isso, amor?

Quando se ama, ou se julga amar, aquele que achámos que seria perfeito, a simples ideia de deixar de o olhar com sentimento, dói quase tanto como os duros golpes que nós próprios infligimos nos nosso orgulho, ao saber que talvez (quase de certeza) não o possamos ter.

Que preço estamos dispostos a pagar pelo amor que julgamos ser o “amor-perfeito” ?


ac.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

rostos sem nome.

Já sonhei com pessoas que nunca vi (além daquelas noites, enquanto dormia) e que provavelmente nunca irei ver, porque não existem.

E esse facto incomoda-me. Como posso sonhar com pessoas que nunca vi, que não irei possivelmente ver (ou se as vir, talvez nem me recorde sequer) e das quais não sei absolutamente nada.

Os meus personagens de sonhos (mais ou menos felizes) não têm futuro nem passado. E o único presente é aquele que eu testemunhei enquanto estava sob o sono.

Só lhes conheço os contornos do rosto e do olhar por vezes angustiante ou sedutor que me lançam a mim, enquanto me dobro no meio dos lençóis.

Não sei se são felizes, se são inteligentes, se são sensatos e divertidos. Nem tão pouco se têm família ou vivem sozinhos, se tem medos ou se a falta de alguém no mundo os fez perder o zelo pela vida e os tornou em aventureiros que arriscam a vida por nada.

Será que a muitos e muitos quilómetros daqui estará o rosto que me visitou a noite passada? E se estiver, terá sonhos angustiantes como os meus? E sonhará comigo? E se estiver e for como eu o imaginei, ou sonhei, ou pintei?

Terá o mesmo olhar profundo e inesquecível e saberá abraçar de uma maneira tão forte como aquela que quase senti na outra noite?

Talvez.

Mas e se realmente existir, de acordo com as lembranças que tenho dele?

O rosto, o abraço e o desconhecido? Se não souber o seu nome, nem a sua historia de vida? Se ele próprio não souber por quem luta na vida, apenas porque está sozinho? Se não tiver nada nem ninguém, nem mesmo o reconforto de saber quem é?

Como será? Deve ser mil vezes pior do que o vazio que sinto ao acordar e saber que aquilo com que sonhei só foi angustiante e vazio, porque
todos os rostos que vi, não tinham nome e eu nunca os poderia procurar.

Deve ser muito pior a angústia de não saber procurar por nós do que pelos outros. Felizmente, sei o meu nome e para onde vou. E hoje, estou certa de que o caminho por onde vou daqui para frente tem um nome e o nome que quero.


Ac'

terça-feira, 4 de agosto de 2009

(...)

(...)
Então, repousando sobre a confortável poltrona castanha, Mafalda recordou os tempos de adolescente.

Naqueles três anos de secundário, achava que definitivamente o campo amoroso não era o melhor para ela. Tinha-se apaixonado por um rapaz da sua turma logo no primeiro ano em que entrou para a escola secundária, Bernardo. Foi alternando uma paixão contida e secreta com uma paixão desmedida, capaz de a fazer ignorar as limitações que teria que enfrentar.

No entanto, não teve sorte nem coragem suficiente para se fazer valer. E por isso, prolongou-se uma dor crua, por três anos. Foi um período complicado. Embora tivesse sido sem dúvida feliz, tinha sido uma pessoa sozinha. Invejou as amigas que aos poucos foram encontrando alguém especial, invejou os casais que observava discretamente na rua e invejou os sentimentos puros que faziam com que os seus amigos suspirassem e revirassem os olhos de contentamento em todas as ocasiões que estavam juntos. Aos poucos foi começando a mostrar desagrado quando a convidavam para sair, ir ao cinema, passear, ir à praia ou jantar. Foi ficando adversa aos números ímpares, que a deixavam sempre, só.

Não sabia se conseguiria esquecê-lo. Afinal, entre paixões de menos de um mês, facilmente confundidas com uma mera atracção física, o amor por ele era o único sentimento que prevalecia, forte e penoso.
No final do terceiro ano, teve uma breve esperança, forte e bonita. E pensou realmente, que o futuro que se avizinhava tenebroso, poderia não chegar a acontecer.

Mas não. Nem mesmo o amor que sentia e que julgava ser recíproco, chegou. A duas semanas de uma separação pouco inevitável, Mafalda julgou ter acabado um período de solidão. Mas duas semanas após o fim do ano lectivo, pôde comprovar, da forma mais penosa, que afinal, iria continuar a sentir a mesma inveja das canções de amor cantadas ao ouvido dos seus amigos às namoradas, ou das mãos dadas que entrelaçavam por baixo dos olhares atentos de quem nada tinha a ver com aqueles sentimentos ou ainda das declarações lamechas que lia constantemente em cartas, em textos de espaços na internet ou que era obrigada a ouvir para aprovar.

Nunca pensou em que Bernardo seria eterno, nunca o julgou como seu. Mas sempre o encarou como a pessoa ideal. Sempre o teve como o espécime exacto da perfeição que pretendia. Era inteligente, culto, tinha senso de humor, era talentoso, era querido, simpático, atencioso, correcto e sensato. Tinha uns olhos expressivos que em nada aparentavam encerrar uma pequena imperfeição e um rosto tão sereno que Mafalda poderia assegurar que nunca ficaria cansada de o admirar. E temia que ele fosse o único. E que, de costas viradas, ela continuasse sozinha, no seu mundo desprovido de números pares.

Quando se lembrou que eram apenas recordações, Mafalda sorriu ao rosto inesquecível de um rapaz que sempre amou. Levantou-se, pegou num dos seus dossiês de capa amarelada e sentou-se à secretária, começando a estudar uns artigos de psicologia que imprimira no dia anterior sobre a reacção das pessoas face aos sentimentos.

(...)

AC.