segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A vida

Um dia parei diante de uma porta entreaberta.
Curioso, dei um passo em frente e espreitei.
Não deu para ver muita coisa, estava escuro, mas pareceu-me ser um compartimento bastante amplo.

Decidi avançar e, assim que entrei, a porta fechou-se num estrondo atrás de mim, que se seguiu de vários "cliques", como se alguém me tivesse propositadamente trancado naquele enorme compartimento.
Ignorando o sucedido, olhei para a frente e vi uma placa pendurada que mostrava em letras bem grandes e visíveis a palavra "vida". Percebi, então, que talvez tivesse tomado uma decisão irreversível ao espreitar por aquela porta.

Inicialmente, o que vi naquele espaço assustou-me.

À minha frente apenas conseguia ver guerras sem fim, mortes intermináveis, fome, doenças incuráveis, tristezas esbatidas no rosto de pessoas e tantas outras atrocidades que me deixavam revoltado. Recuei, mas lembrei-me: a porta estava trancada. Não havia regresso.
Prossegui então a minha viagem no desconhecido.

Contornei rapidamente as atrocidades que ocupavam a maioria do espaço e deparei-me com pequeninos focos de luz, espalhados na escuridão.
Aproximei-me do que se encontrava ao meu lado esquerdo.
Vi sorrisos e alegria que eram verdadeiramente contagiantes. No entanto, passei e espreitei outro foco.
Neste, vi uma família que passeava num jardim rodeado de ternura e carinho. Era mesmo aconchegante!
Mesmo assim, prossegui, curioso do que se encontrava nos outros focos.
No próximo vi o mar calmo acompanhado de um lindíssimo pôr-do-sol, envolto num sentimento de paz e segurança.
Apetecia-me ficar ali o resto do tempo, mas não hesitei: queria ver o que se encontrava nos outros focos, pois todos pareciam tão maravilhosamente apelativos.
E assim continuei, foco após foco, percorrendo o interior daquele enorme compartimento.

No entanto, depois de todo o percurso que fiz ininterruptamente, reparei que já não se encontrava nada à minha volta. Apenas um enorme vazio repleto de escuridão. Não existiam mais guerras, nem mortes, mas também não se via mais nenhum foco.

Pensei então como seria tão bom poder voltar atrás e usufruir da melhor maneira daqueles focos que tão atractivos se encontravam.

Afinal, passei por aqueles momentos com tal rapidez e ânsia para ver os seguintes, que me esqueci que não podia voltar atrás.

Compreendi então o que a vida tinha para oferecer.

Apesar de todo o mal que no início se apresentava à minha frente, a verdade é que também existiam coisas boas na vida, pequenos focos de felicidade.
No entanto, não tinha dado valor a nenhum desses focos e a vida foi passando, até não existir mais, até existir apenas um tremendo vazio. Uma vida sem significado.

Finalmente prometi a mim mesmo que se alguma vez pudesse entrar de novo naquela porta entreaberta, daria valor às pequenas coisas que me poderiam fazer feliz: os sorrisos, a família, o jardim, o mar...
Infelizmente, a verdade é que nunca mais iria ter essa oportunidade. Na "porta da vida" só se entra uma vez.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Dar significado à vida

"Eu já perdoei erros quase imperdoáveis, já tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis. Já fiz coisas por impulso, já me decepcionei com pessoas quando nunca me pensei decepcionar, mas também já decepcionei alguém. Já abracei para proteger, já dei uma gargalhada quando não podia, já fiz amigos eternos, amei e fui amado. Já gritei e saltei de felicidade, já vivi o amor e fiz juras eternas, já "quebrei a cara muitas vezes"! Já chorei a ouvir música e a ver fotos, já liguei só para escutar uma voz, já me apaixonei por um sorriso, já pensei que fosse morrer de saudades e tive medo de perder alguém especial (e acabei por perder). Mas vivi! E ainda vivo! Não passo pela vida e tu também não devias passar! Vive!! O que é mesmo bom é ir a luta com determinação, abraçar vida e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante!"
[Charlie Chaplin]

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A pessoa mais sábia é aquela que sabe que não sabe

Tudo o que sabemos diz respeito àquilo que já experienciámos. Logo, o nosso conhecimento é formado por informações apreendidas empiricamente. Sabemos que o mar é azul porque o vimos e sabemos que o fogo arde por o sentimos. Desde criança que, através dos nossos sentidos, vamos compreendendo tudo o que gira à nossa volta, tudo o que pertence à “realidade” na qual nos inserimos.

Hoje em dia, poder-se-ia dizer que o conhecimento humano já vai bastante avançado. Afinal, existem inúmeras leis e teorias incontestáveis sobre o funcionamento do universo, tal como a Lei da Gravidade ou a Teoria de que a Terra é que gira em torno do Sol. Mas quão limitado é esse conhecimento? Na verdade, permanecem ainda muitas questões por resolver. Nada sabemos sobre a dimensão do universo, sobre a existência de Deus ou sobre a vida para além da morte. E mesmo as teorias já estabelecidas estão passíveis de estarem erradas. Por exemplo, as Teorias da Relatividade de Einstein foram construídas segundo o princípio determinista do universo. No entanto, o princípio da Incerteza de Heinsenberg constatou que o comportamento das micropartículas é indeterminista. Por exemplo, se se puser um electrão numa caixa e se separarmos essa caixa em duas partes, o electrão estará nas duas ao mesmo tempo e só quando alguém abrir uma das partes é que o electrão decidirá arbitrariamente onde irá ficar, sem qualquer tipo de razão.

Assim, será que alguma vez atingiremos o pleno conhecimento? A verdade absoluta? De facto, o nosso conhecimento é extremamente limitado, sendo apenas constituído por aquilo que nos é apresentado. Mas e se houver mais para além da nossa “realidade”? E se o que nos rodeia (que ainda mal conhecemos na sua totalidade) for apenas uma pequena parte daquilo que existe realmente e que nunca poderemos conhecer? Poderão existir realidades paralelas inacessíveis por parte do conhecimento do ser-humano?

domingo, 18 de janeiro de 2009

*

" Um homem que quer reger a sua orquestra tem de voltar as costas à plateia." - James Cook

Todas as pessoas, em dados momentos, mais ou menos extensos, são sábias.
Tornam-se esporadicamente vividas, cultas, inteligentes, conselheiras e entre outras coisas de bom gosto, videntes até.
Sabem sempre o que os outros devem fazer ou dizer para resolverem os seus problemas.
São óptimos governadores da vida dos outros. E repito, da vida dos outros.

Há outras pessoas que não são tão bem sucedidas na chefia da vida alheia e que têm sérios problemas assumidos, nas suas proprias vidas.
Não sabem qual o caminho a escolher e não se conseguem decidir com clareza sobre o futuro.

Quando estes dois tipos de pessoas se cruzam há influencias a voar de pensamento para pensamento.

O sábio dá palpites e o indeciso, relutante, aceita-os.
Como não sabe mesmo o que fazer, deixa que decidam por ele a sua vida e pouco a pouco, deixa as decisões para os outros, tornando-se mero espectador do seu próprio espectáculo.

Mas um dia vai acordar e olhar com olhos de ver para o palco.
Vai perguntar-se porque razão não é ele quem dirige aquela orquestra, porque razão aplaude e não é aplaudido e porque admira em vez de ser admirado.

Então, vai esquecer todos os palmites que recebeu em dias confusos.

Vai subir ao palco, afastar o contra-maestro que entretanto se apossara do seu lugar, agradecer os aplausos com uma vénia radiante e com um sorriso secreto e virar as costas à enorme plateia que espera a sua graça.

Depois, vai inspirar e expirar, sorrir para os seus músicos, olhar para o alto como quem procura uma benção e como um pequeno pássaro que voa pela primeira vez, irá deixar-se ir pela força do instinto, pela ocasião, pela vontade e pela emoção que lhe for na alma.

Irá orquestrar a sua vida por si.

De costas voltadas para quem assiste e sugere, e de peito aberto para o que realmente interessa.

AnaCatarina*

sábado, 17 de janeiro de 2009

Envelhecimento

Já que o tema principal do nosso blog é as Indecisões, hoje trago mais um assunto que me causa algum transtorno. Li esta tarde no “Sol” que o Sistema Nacional de Saúde português faz em 2009 trinta anos. Este facto levou-me a pensar no envelhecimento da população nas sociedades actuais, já que é principalmente a população envelhecida que se serve deste serviço.

Actualmente a esperança média de vida em Portugal é de 76 anos, bastante superior à de meados do século XVIII, antes do início da Revolução Industrial, período em que esta se situava nos 35 anos. A questão que eu formulo é: será que vale a pena viver tanto tempo?

No livro que tenho de momento na minha mesa-de-cabeceira, “O Sétimo Selo”, José Rodrigues dos Santos analisa exactamente esta situação. O autor refere que à medida que envelhecemos vamos perdendo as nossas capacidades, até chegarmos ao ponto em que fazemos uma “regressão à infância”, ou seja, à medida que envelhecemos acabamos por perder a nossa autonomia, tanto a nível físico, como psicológico. Parte da nossa memória começa a danificar-se, confundimos acontecimentos, sentimo-nos cansados, temos problemas de saúde e, por fim, precisamos constantemente da ajuda de outras pessoas para sobreviver. Tal como uma criança, também nós dependemos do supervisionamento de outras pessoas. Acabamos sempre por nos sentir humilhados pelo facto de perdermos a nossa independência e capacidade para tratar de nós próprios, características que sempre possuímos durante a nossa vida.

Assim, será que vale mesmo a pena vivermos tanto tempo se a nossa vida se torna tão degradante e vazia? Até que ponto estamos dispostos a perder as nossas faculdades só para acrescentar uns meros números à nossa idade?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Indecisão

“Toda a gente há-de ter notado o gosto que têm os gatos de parar e andar a passear entre os dois batentes de uma porta entreaberta. Quem há aí que não tenha dito a algum gato: «Vamos! Entras ou não entras?» Do mesmo modo, há homens que num incidente entreaberto diante deles, têm tendência para ficar indecisos entre duas resoluções, com o risco de serem esmagados, se o destino fecha repentinamente a aventura. Os prudentes em demasia, apesar de gatos ou porque são gatos, correm algumas vezes maior perigo do que os audaciosos.”
Victor Hugo, in 'Os Miseráveis'

Hoje em dia, a indecisão é um fenómeno que está indiscutivelmente presente nas nossas vidas. Toda a gente já esteve numa situação de hesitação, da qual lhe custou muito sair. Por vezes a escolha torna-se difícil e a dualidade entre a prudência e a audácia permanece bastante tempo a consumir-nos o pensamento. Devem estar a pensar por que razão me dou ao trabalho de analisar este problema, mas é tão simples como ter aulas às 8:30 da manhã. É verdade, todas as manhãs fico indeciso se me hei-de levantar da cama ou simplesmente ignorar o mundo. Acabo sempre por me levantar da cama, o que acaba por ser bastante aventureiro, dada a situação actual das escolas portuguesas.

Bem, deixando-me de parvoíces, fico agora a pensar nas características que compõem um indeciso. Curiosamente, o indeciso é sempre o mais perseverante nas suas escolhas, pois, dado o seu pavor do estado de hesitação, quando toma uma decisão, leva-a até ao fim, uma vez que teme só de pensar em voltar atrás e ter que tomar uma nova decisão. Por outro lado, o indeciso é também mais rápido e eficiente, uma vez que quer a todo o custo executar a decisão tomada para não ser induzido a desistir e voltar ao processo de hesitação.

Ufa! A angústia da indecisão é tanta que até cansa escrever um texto sobre o assunto. Começo agora a duvidar se não deveria ter escrito um texto sobre outro tema. Se calhar tinha mais interesse. Sim, definitivamente era melhor. Não, este está bom. Sim, fiz bem. Oh, talvez tenha errado. Mas eu acho que fiz bem…

SIM,

NÃO,

SIM,

NÃO,

AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! A indecisão é tão fatigante...