sexta-feira, 31 de julho de 2009

ataraxia.


Sempre fora uma pessoa justa, calma e imparcial. Capaz de dar o seu parecer em situações difíceis de um modo suportável para quem tinha razão e quem não a tinha, capaz de transformar uma situação péssima e quase irrevogável numa lição de moral e numa aprendizagem para o futuro e capaz de amenizar os atritos entre personalidades distintas, de suavizar as discussões que surgiam num calor infernal mesmo nas tardes de inverno.
Se havia pessoa capaz de lidar com situações difíceis, era ela. E orgulhava-se disso. Disso e de poder dizer, em voz alta e ao reflexo inseguro que via no espelho, que essa era a sua maior qualidade.


Porém, não se orgulhava de não conseguir ser imparcial em amores. E sabia, que por mais que quisesse ser, não o poderia, porque no amor, quem é imparcial não ama.
Mas ela tinha esperança que com a imparcialidade pudesse vir algo que não a destruísse aos poucos, algo que lhe fechasse o negro no peito que conquistara penosamente ao longo de uma tríade temporal.

Pedia uma solução, secretamente, que a fizesse sentir-se completa, como antes se sentira. Uma solução que a fizesse contemplar a beleza de um pôr-do-sol à beira mar por si só, sem ter que a associar à melancolia indesejada de um rosto longínquo, ou que lhe permitisse olhar as estrelas e a lua em quarto crescente sem pedir, silenciosamente, que a brisa cálida de uma noite serena, o trouxesse de novo até si, apenas para o admirar, de novo, uma vez mais.
Com certeza que o amor dela não podia ser imparcial. É que era mesmo amor. Pleno, sereno, recto, justo, forte, terno, saudoso, penoso, perfeito. Amor. Amava sem pedir em troca nada mais que a felicidade do rosto que contempla em todos os outros rostos que não interessam; amava sem desejar tê-lo, mas sim, vê-lo, para que a saudade não sufocasse; amava de alma cheia, com medo e angústia dos tempos passados, com breves lanços de esperança no futuro e com a maior dedicação no tempo do agora.

Sabia que se chorasse por muito mais tempo acabaria por matar dentro de si as possibilidades de se tornar plena, numa outra ocasião, tornando-se numa pessoa fechada, fria e só. Sabia que se acreditasse demasiado no depois, se tornaria iludida, aturdida e manipulada pelas esperanças vãs e infundadas que ninguém prometeu. Sabia que as recordações dos seus traços fortes a fariam desfalecer por dentro sempre que por inveja ou outro qualquer sentimento, alguém ou algo a fizesse lembrar-se dele. E sabia que isso seria constante. E que seria constante e demorada, a sua morte face a um mundo inexplorado.

Então, em jeitos de calma desmedida e numa ilusão ciente por si criada, criou um redoma à sua volta.
Hoje, não o chora, não o sofre, não lhe sorri sem o ver, não o deseja de segundo a segundo, não o imagina, não o inveja, não o admira, não o sonha, não o pinta, não o recorda nos retratos.

Só o espera.

Só o ama, desesperadamente, calma.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A praia


Ontem fui à praia. Mas não fui a uma praia qualquer. Para mim as praias do Alentejo são as melhores do país. Imponentes falésias erguiam-se sobre um extenso areal que se dirigia para um oceano azulado e convidativo a mergulhos. Ao longe, na paisagem, podia-se observar pequenas ilhas de rochas recortadas pela força da maré. Estava pouca gente e um enorme clima de tranquilidade pairava no ar. O Sol, quente, queimava-nos a pele e dava-nos aquele tom dourado, sempre importante para a auto-estima. Apenas um pormenor faltava: aquelas mulheres que visualizamos em fio dental nas telenovelas brasileiras. Não sei porquê, mas elas nunca pairam por estas bandas. Que pena!


Mas, se de um lado estava o mar lindo e pacífico, do outro estava uma paisagem igualmente, se não mais, interessante – a esplanada. Começo a ser daquelas pessoas que, em vez de procurarem uma boa praia, procuram sim uma boa esplanada. Felizmente, no Alentejo consegue-se conjugar as duas coisas. O único problema, e que está a acontecer por aqui, é o facto de as praias se tornarem mais turísticas de ano para ano. Isto não só significa mais gente (logo, menos lugares para estacionar), como preços mais elevados nos petiscos que todos adoramos.


Entretanto, enquanto não chega o final da tarde (ou, como quem diz, uma hora razoável para ir para a esplanada), continua-se a fingir que viemos à praia porque gostamos realmente da praia e não do café. Não sei quem é que continua a acreditar! É então que me deito na minha toalha e começo a observar. Ao fundo, junto ao mar, vejo que alguns jovens estão a frequentar uma aula de surf.


Ainda me lembro da minha primeira aula de surf. Sentia-me como se a praia fosse minha. Acho que nunca inchei tanto o peito de orgulho na vida. Não sei se vocês sabem, mas as primeiras aulas de surf são praticamente o tempo todo na areia. Aprende-se os nomes de tudo o que se relaciona com surf e aprende-se a posicionar o corpo em cima da prancha. Para mim, aquilo era o melhor que me tinha acontecido na vida. Sentia-me um autêntico garanhão de fato e de prancha na mão. Não liguei muitos aos pormenores técnicos. O que queria era entrar no mar e dominar as ondas. Não se pode dizer que tenha sido isso exactamente o que aconteceu. Digamos que apanhei algumas ondas. Já rebentadas, mas apanhei!


Depois de várias tentativas falhadas dentro de água, decidi vir para fora. Ao menos não fazia figuras tristes e conseguia ter algum estilo. Após esse dia concluí que o surf não era para mim: muito esforço e persistência. Tempo perdido para quem tem uns petiscos maravilhosos à espera do outro lado da praia. Decidi apenas preservar o fato e a prancha. Sempre posso dar uma voltinha vestido à surfista, assim como quem não quer a coisa. Digamos que os surfistas tendem a ser bastante populares perante a plateia feminina.


Bem, com ou sem fato de surfista, na praia há sempre coisas que nunca desaparecem. Alguém com um rádio aos altos berros que pensa que a praia é uma discoteca. Os castelinhos de areia feitos pelas crianças ou pelas pessoas que querem parecer jovens em frente às crianças. Os jogos de futebol, onde não interessa a bola, mas sim a confusão que se gera. E, finalmente, os casalinhos de namorados. Óptimo para eles, mas péssimo para quem, como eu, não tem namorada. Não sei porquê, mas o meu fato de surfista não tem obtido grandes resultados. Estou a pensar avançar para a fase da tatuagem. Todos os surfistas têm uma!


No final da tarde, chega finalmente a hora de ir para a esplanada. É então que direcciono todas as minhas frustrações, amorosas ou de surfista falhado, para os petiscos apetitosos que se pedem aos pais estrategicamente em momentos de distracção. O melhor momento é quando estão ao telemóvel. Dizem sim a qualquer pedido sem se aperceberem.


No final de contas, ir à praia acabou por ser bastante divertido e satisfatório (se pensarmos nos petiscos). E este foi só o primeiro dia de praia nestas férias alentejanas. Talvez frequente uma aula de bodyboard para a próxima. E quem sabe se, com o tempo, as brasileiras não acabam por aparecer?

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A estadia


Acordar às três horas da tarde é o melhor que me pode acontecer. Fico mais relaxado, não sei! Aproveito e fico mais um minuto na cama a pensar que se não estivesse de férias ainda me restaria a aula de Economia para voltar para casa. E Isso dá-me um certo prazer! Eu sei que há pessoas que não se conseguem levantar assim tão tarde, mas eu sou bastante diferente. Ainda ontem pus o despertador para conseguir acordar, imagine-se, à uma hora da tarde.

O dia começa calmo aqui no Alentejo. Levanto-me e a primeira coisa que vou fazer é estender-me ao Sol. No Verão toda a gente quer ganhar aquela corzinha especial que ficará tão bem na fotografia! Eu não sou excepção. Ponho um bocadinho de protector 20, apenas para não me sentir muito culpado, e deito-me confortavelmente numa espreguiçadeira. Verifico a cor da minha pele de cinco em cinco minutos, mas não observo grandes modificações. Deixa lá, tenho ainda muitos dias para ficar moreno! Pode até ser fútil, mas conforta-me saber que esta é a minha única preocupação. Aqui não há horários, não há problemas, não há trânsito, não há testes ou trabalhos de casa. Ou seja, não há nada que me possa preocupar, a não ser decidir o que vou comer. E escolha entre um pãozinho alentejano ou um dos cozinhados da minha mãe não se revela muito difícil, pois todas a opções são deliciosas.

Começo a ler o jornal para ocupar a cabeça e deparo-me com uma notícia insólita. Segundo um inquérito da Deco-Proteste, 41% das mulheres e 23% dos homens portugueses não se consideram atraentes. Ora isto significa que 59% das mulheres e 77% dos homens se consideram realmente atraentes. Das duas uma, ou eu ando a ver muito mal, ou então as pessoas em Portugal não têm muitos espelhos em casa.

Guardo o jornal e vou dar o primeiro mergulho do dia à piscina. Nado durante um breve período de tempo, convencido de que isso se notará nos músculos quando sair da água. No fundo eu sei que não fará a mínima diferença, mas parece que resulta um bocadinho na auto-estima. Começo realmente a convencer-me que em Outubro me vou inscrever no ginásio, mas também sei que já fiz a mesma promessa no ano passado. Adio para Novembro. Um mês não fará qualquer diferença.

No final do dia o meu pai preparou-se para a tarefa mais assustadora que alguma vez efectuou: ensinar-me a conduzir. Acho que o convenci de vez que ter filhos pode mesmo implicar correr perigo de vida. Ele não me disse, mas certamente deixou transparecer no seu olhar. Por entre curvas e rectas, subidas e descidas, tentei confortar-me com a ideia de que só estava a correr mal porque era a primeira vez. Dei por mim a pensar quantas vezes seria normal deixar o carro ir abaixo. Acho que foi a primeira vez em que senti que não tinha tido sucesso numa tarefa. Em termos de automobilismo sou mesmo daqueles que luta para a positiva. Não sei porquê, mas sempre me habituei à ideia de que quando chegasse a minha altura já existiriam carros como os do Sangoku.

Quando parei finalmente o carro pensei que quando chegasse a casa poderia procurar uma bicicleta, algo em que realmente pudesse andar e sentir-me orgulhoso. Talvez me desse algum consolo. O que certamente não me deu consolo foi a frase do meu pai quando, após recuperar a cor normal da sua cara, me disse serenamente “deixa lá, foi a primeira vez, com o tempo vais melhorar”. O que traduzindo se podia resumir em “Foi péssimo, temos mesmo de repetir amanhã?”

Quando cheguei fui tomar banho. O ruído do motor do carro ainda me assombrava os ouvidos. Acho que hoje não vou escapar aos pesadelos. Aumentei a pressão da água e reflecti profundamente sobre se seria assim tão complicado inventarem o teletransporte. Depois fiquei quieto, ouvindo a água correr sobre mim como se fosse uma qualquer planta que permanece imóvel sob a chuva. Fechei os olhos e deixei que o vapor me absorvesse os pensamentos.

terça-feira, 28 de julho de 2009

outros.

O que os outros pensam não importa.

E quem são os outros? E o que dizem eles? E porque não importa?

Os outros são pessoas a quem não recorremos frequentemente para desabafar, para contar as novidades ou os relatos banais do dia-a-dia, para convidar a uma ida ao cinema. São pessoas que facilmente passam despercebidas nas nossas tomadas de decisões e embora as tenhamos de em conta de vez em quando, são aquelas às quais dirigimos um singelo “olá” e tudo fica dito. São pessoas que até nos podem julgar conhecer, mas nunca saberão quais são os nossos sentimentos, as nossas opiniões, os nossos maiores amores, os nossos maiores e mais humilhantes momentos ou até mesmo pequenos pormenores que só os que se interessam verdadeiramente por nós, conseguem captar.

Os outros pensam muito ou muito pouco de nós. Dependendo da personalidade dos outros e dos seus outros amigos, podem ignorar-nos ou criticar-nos afincadamente. Podem pensar que parecemos ridículos ou pensar que deveríamos ser mais contidos. Podem pensar que somos fabulosos ou que nos deveria acontecer qualquer coisa para experimentarmos o outro lado do adjectivo. Podem pensar que somos detestáveis ou que gostariam ainda mais de nós se os tivéssemos por perto.

Não importa? Ás vezes importa bastante. Mesmo que se tenha um ego inabalável e que o primeiro comentário depreciativo de uma cara pouco importante não produza qualquer efeito, talvez a décima observação já nos ponha a pensar se seremos realmente como os outros dizem. Outras vezes não importa mesmo. O que interessa se um fulano, quase desconhecido, nos dirige um olhar de reprovação ou de inveja, de pena ou de ódio? Se estivermos felizes e lhe lançarmos um sorriso brilhante, sei que o outro seria capaz de aumentar ainda mais a sua pena, a sua reprovação, o seu ódio ou a sua inveja e estou certa, que em alguns momentos, isso também nos aumentaria bem a felicidade.

Se os outros pensam ou falam de nós, bem ou mal, pensam e falam. E o problema é deles, porque desde que nós estejamos bem da maneira que estamos, não somos nós que temos algo a resolver.

Portanto, quem são os outros, o que dizem e que importância têm? Não interessa. Os que interessam, não sou outros, eu sei o que dizem e a importância é mais que sabida.

Ac.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A viagem


Um carro cheio de tralha, quatro pessoas e três cães. Foi assim que começou a viagem que me trouxe de novo ao Alentejo. Sim, isso mesmo, três cães. Começámos por ter dois quando eu prometi estupidamente que os levaria à rua sempre que fosse necessário. Claro que nunca cumpri a promessa, mas parece que não houve qualquer problema porque a família arranjou espaço para mais um elemento quando o meu irmão mais velho decidiu arranjar um cão que o acompanhasse na vida lisboeta.

Acontece que ter um cão não é propriamente igual a ter um peluche. Rapidamente a junção do cão com a vida de um estudante universitário pareceu cada vez mais impossível. Horários para passear, horários para comer (e eles não comem congelados!) e horários para o veterinário. É verdade…o despertador começou a tocar demasiadas vezes ao dia e a ideia do peluche pareceu cada vez mais encantadora. Passado algum tempo o cão foi despejado sem qualquer hipótese de reconciliação, como se fosse um qualquer inquilino indesejado que ainda por cima não pagou a renda.

A minha mãe, claro, não se importou nem um pouco de ter ao seu cargo mais um animal de pêlo. Recebeu-o como se fosse o dia mais feliz da sua vida. Apenas se esqueceu, não sei se propositadamente, da parte “como é que vamos conseguir pôr mais um cão dentro do apartamento”, que certamente o meu pai terá pensado. A verdade é que lá nos temos conseguido arranjar e hoje estamos todos juntos, rodeados pela belíssima paisagem alentejana.

É estranho, mas parece que precisamos de mudar de lugar para nos sentirmos realmente de férias. Tenho pensado se o facto de pôr um sobreiro no quintal do meu prédio faria alguma diferença. Talvez sim, mas desconfio seriamente que o sobreiro não se daria muito bem em terras acima do Mondego, especialmente junto ao parque de estacionamento do prédio onde vivo. Já agora, aproveito para enviar uma mensagem aos meus vizinhos: será que podiam deixar o carro na garagem? É que ultimamente não se consegue encontrar lugar em lado nenhum. Por vezes dou por mim a verificar se entrei no prédio certo, não vá eu ser apanhado a entrar noutro 2º esquerdo qualquer enquanto uma sexagenária se passeia nua e descontraída pela sua casa.

Bem, mas voltando ao assunto inicial do texto (a viagem), hoje tive uma das mais difíceis tarefas de todos os tempo – fazer as malas. Irrita-me nunca encontrar o que procuro. Acho que foi o dia em que mais iniciei a pergunta “Mãe, sabes onde está…?”. E não é que as mães parecem saber sempre de tudo? Foi também o dia que em que mais ouvi a típica frase “Só não perdes a cabeça porque está agarrada ao corpo” seguida de uns risinhos de gozo. É por esta razão que, de forma a resolver o problema, isto é, para que eu possa evitar toda esta tortura, deviam inventar um GPS para objectos. As chaves e o telemóvel parecem ser os mais propícios ao desaparecimento. Passamos por eles tantas vezes, mas quando precisamos deles, nunca aparecem.

Em suma, o que interessa é que estou finalmente no Alentejo e o saldo da viagem acabou por ser bastante positivo este ano. Só me esqueci de duas coisas (os óculos de Sol e o carregador do telemóvel). Já começaram as apostas sobre o que vou cá deixar quando voltar para Águeda. Um casaco? A escova de dentes? Não me importam as especulações. Tentem apenas evitar a expressão “cabecinha no ar” para me descrever. Começo seriamente a ter um problema com as frases feitas.

sábado, 25 de julho de 2009

Reflexão depois de um dia cansativo

São quatro horas da manhã e estou finalmente sentado! Parece mal estar a dizer isto, já que acabei agora mesmo de vir do cinema onde estive duas horas sentado a ver o último filme do Harry Potter, mas acontece que as cadeiras dos cinemas são estranhamente desconfortáveis. Pergunto-me se não poderiam fazer uma pausa no avanço dos telemóveis e dedicarem-se à qualidade das cadeiras das salas dos cinemas? Talvez vos pareça esquisito falar logo em telemóveis, mas hoje incomodaram-me particularmente. Ao que parece, para algumas pessoas, uma ida ao cinema não envolve apenas um ecrã. Colam-se aos pequenos aparelhos electrónicos como se uma sms lhes salvasse a vida. E a avaliar pela quantidade de mensagens, meu deus, a insegurança deve estar mesmo a aumentar.

No entanto, o que me levou a escrever este texto não foi propriamente a minha ida ao cinema, embora me tenha feito pensar no assunto. Hoje reparei que as pessoas têm a mania de fazer sempre algo a mais, algo que não faz falta e que não precisam. Por exemplo, no cinema não há necessidade de usar telemóvel, comer pipocas ou beber Coca-Cola. Mesmo assim, toda a gente o faz como se isso acrescentasse alguma coisa ao filme. A verdade é esta: o ser humano tenta sempre completar o que já está simples e completo.

Hoje, antes de ir ao cinema, uma amiga levou-me a um bar novo que ainda não conhecia. Ao entrar, um de nós fez logo uma exigência: zona de fumadores. Rapidamente iniciámos uma pormenorizada inspecção à qualidade do estabelecimento. Não estava muita gente, o que é um ponto negativo. Era noite de caipirinhas e não de cerveja. Ouvia-se House em vez que musica Reggae. Sentámo-nos numa mesa baixa, mas logo eu insisti em mudar para uma mais alta apenas porque tinha uma velinha que me parecia acolhedora. Gostei do cocktail só porque tinha uma rodela de laranja e uma pequena cereja, mas fiquei com inveja do da minha amiga porque o dela tinha um chapéuzinho de chuva, além do facto de eu ter um copo normal e ela ter uma taça. Assuntos importantes para quem quer manter uma amizade! Passado pouco tempo fomos embora, o tecto era muito alto para um bar.

Em suma, onde quero chegar com esta descrição é à pergunta: porque não nos contentamos com coisas simples e queremos sempre algo diferente? Não estaria eu agora, às quatro e quinze da manhã, muito mais satisfeito se não tivesse feito tantas avaliações sobre o que me rodeava?
Reparem no cenário: primeiro tinha ido a um bar novo com amigos (que excitante, algo diferente para variar!). O bar era perfeito. Tinha zona de fumadores. O tecto era alto, assim circulava mais ar. Era noite de caipirinhas, óptimo para quem gosta. Ouvia-se música House (que bom, muitos bares nem sequer têm música) A mesa era baixa, mas nem me importei com isso. Os cocktails vinham em copos diferentes e com enfeites (giro, não se vê disto todos os dias). E as velas? Quem precisa de velas para falar com os amigos? Ficavam bem na outra mesa. No final da noite fui ao cinema. Cadeiras desconfortáveis e a luz irritante de um telemóvel que uma rapariga usava desenfreadamente. Who cares? O que interessa é que vi o filme.

Não teria tudo sido, assim, perfeito? Claro que sim, mas agora sei que a insatisfação é inevitável. Queremos sempre algo que não temos e isso leva-nos a aproveitar menos tudo aquilo que nos rodeia. Mas nem tudo é mau: escrevi um texto no blog e deixo uma sugestão. Deviam pôr rodelas de laranja e uma cereja nas cadeiras do cinema. Talvez ajudasse! Deixem-me contar-vos um pequeno segredo: eu não gostei propriamente do sabor do meu cocktail, mas adorei o facto de ter enfeites.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Desacertos,.

Às vezes, na música, há uma nota que falha.

Antecipamos e deturpamos o ritmo da melodia como um fio que quebrou no tear e alterou o padrão de um tecido. Ou atrasamos uma colcheia e ficamos a contratempo, desacertados com os que nos acompanham. E nem sempre sabemos mudar o ritmo que tomámos inesperadamente para voltar ao compasso sensato.


A verdade é que a nota falhada pode até nem se notar, dependendo da melodia onde estava encaixada. Mas, se fosse num solo, em que cada um de nós, cada artista, tivesse que executar uma música brilhante, capaz de arrepiar e colocar uma lágrima de emoção nos olhares, em que estivéssemos isolados, destacados e responsáveis, cada nota falhada, antecipada, atrasada ou mesmo ocultada, iria ter efeitos indetermináveis.


Aquela nota que falhámos, podia ser a nota que precisávamos para que no fim, ouvíssemos o nosso nome sair da boca dos espectadores na forma de aclamação, que iriam aplaudir de pé.

Ou podia ser, aquela nota que antecipámos, o motivo pelo qual fomos mal compreendidos e nos vimos negados do direito a mostrar que poderia ter resultado.


Ou então, a nota que atrasámos, podia mesmo ser, a razão pela qual chegámos tarde de mais a um palco onde já não tínhamos lugar, onde a orquestra já estava completa e onde o lugar que tanto queríamos e que tivemos como certo e garantido, já não existia mais, porque quando chegámos, já era tarde.

Na realidade, na música, naquela que habitualmente ouvimos, os erros são sem dúvida bem mais fáceis de suportar.


Mas, na verdadeira melodia, a que é feita de pautas bem delineadas e que roubou de nós partes importantes de sossego, na verdadeira melodia, naquela em que demorámos a encontrar todos os executantes necessários e indispensáveis para a sua existência, na verdadeira e mais pura melodia, aquela que construímos, aquela que escolhemos a dedo, aquela que nos fez pensar e repensar, aquela que nos obrigou a escolher e a abdicar, aquela que causou transtornos e alegrias, aquela que deixou que os passeios de mãos dadas fossem sempre adequados, que deixou que os pores-do-sol pudessem ser sempre cenários de melancolia e que deixou que os pensamentos fossem sempre o melhor e o mais assustador refugio de sonhos por cumprir, nessa, cada nota é a solo.

E num solo, somos só nos.

E aí, cada nota, antecipada ou atrasada, irá ter o seu custo.
E nós, músicos de poesias vazias de letras, sem uma máquina do tempo, teremos, teremos mesmo, que o saber pagar.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

SW

Consegui!
Depois de uma noite de poker até às 5 da manhã decidi que valeria a pena levantar-me às 7 para participar no passatempo da Antena 3 que permite ganhar um passe duplo para o Festival Sodoeste deste ano.
O passatempo consistia em ligar o mais rápido possível para um determinado número sempre que passasse uma das três músicas indicadas no site. Os três participantes mais rápidos a ligar recebem um passe duplo.
E eu fui um deles! Ganhei, poupei 150 euros e lá vou eu para um dos mais antigos festivais do país!
Vale sempre a pena tentar!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Pormenores

Queridos seguidores do blog (sim, vocês os dois, não há mais nenhum),
Tenho que vos pedir as mais sinceras desculpas por ter estado tanto tempo sem escrever no blog. A verdade é que tenho estado bastante ocupado, mas nem assim deixei de observar determinados pormenores do dia-a-dia, que desde já partilharei aqui com vocês.

Em primeiro lugar quero aqui destacar a forma como a Gripe A veio revolucionar o mundo. Em países como o Líbano, em que o costume é dar-se três beijinhos como cumprimento, esta prática foi já proibida pelo governo como medida preventiva. Nem tudo é mau, se tiverem uma daquelas festas em que a lista de convidados se estende demasiado e não vos apetece dar beijinhos a toda a gente, então o Líbano é o local perfeito.

Mesmo se ficarem infectados, há sempre aspectos positivos. Imaginem a vingança que poderiam efectuar sobre aquelas tias que vos apertam as bochechas e vos dão sete ou oito beijinhos. Agora seria a vossa vez.

Hoje em dia dizer-se que se está constipado ganhou uma nova dimensão. Talvez já possa mesmo ser usado como uma desculpa viável para faltar ao trabalho. Para além disso, se quiser arranjar um lugar num autocarro ou no comboio vá de máscara e comece a espirrar violentamente. Garanto-lhe que não ficará de pé.

Mudando de assunto, tenho-vos a dizer que este fim-de-semana detectei a actividade que nos rouba mais tempo por dia: procurar o comando da televisão. Dizem que cada cigarro nos tira aproximadamente cinco minutos de vida, mas ninguém se preocupou ainda com o tempo que demoramos a procurar o maldito comando sempre que queremos ver televisão. E acreditem que por dia são bem mais do que cinco minutos. Neste aspecto, o comando assemelha-se em muito com o dinheiro do BPN: nunca sabemos onde está, não sabemos quem o tirou do sítio e quando perguntamos a alguém pelo seu paradeiro, as pessoas perdem rapidamente e memória e a resposta é sempre um inocente “Não sei de nada”. Ainda gostava de saber o que o Nuno Melo tem a dizer sobre isto. Talvez faça uma audiência sobre comandos.

Por fim, ouvi recentemente na rádio que um aluno passou de ano lectivo com nove negativas. Hoje em dia passar de ano é tão fácil que qualquer dia exigem-se negativas para entrar na universidade. Na minha opinião esta política do ministério da educação não passa de uma medida para aumentar a natalidade. Talvez fiquemos mais contentes quando repararmos que o teste de gravidez deu positivo!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

edw.


Todos nós temos sonhos. Sonhos lógicos, sonhos sem nexo, sonhos por fantasia, sonhos por mania, sonhos por admiração, sonhos por sonhar. E sabemos, que há determinados sonhos que nunca (muito dificilmente) veremos realizados.

No entanto, há dias em que vemos parte das nossas manias, dos nossos sonhos ou fantasias, realizados.
(Quando me refiro a um sonho, aqui, pretendo mostrar um enorme desejo, quase utópico, que envolve personagens ficcionadas, um bocado de cinema e uma enorme adoração!)
Não podia imaginar, de modo alguma, que hoje seria um desses dias.
Por isso, assim que o vi, sabia que me fazia lembrar alguém, que me fazia lembrar uma boa fantasia (de verdade!). (Quando pensamos constantemente numa personagem idílica, que admiramos e desejamos para nós, o reconhecimento de uma ou mais semelhanças dessa personagem, com uma pessoa real, pode produzir efeitos avassaladores!)
Tinha os mesmos traços brancos e serenos do rosto. A mesma postura rígida, altiva, quase poética.
Tinha o mesmo olhar claro, brando e cativante. Notava-se descontraído e alienado, como se soubesse que não pertencia ali (e eu acredito, que hoje, não pertencia. Pertencia-me a mim!). Tinha feições atléticas, era alto e bonito, não como um deus, mas certamente que corresponderia aos moldes de perfeição de um sonho puro. Tal como no meu sonho, tinha o cabelo penteado num desalinho castanho-dourado. E a sua melhor e mais doce característica era o sorriso, enviesado, pleno. Tinha um sorriso perfeito. Terno, brando, sedutor, perfeito!
Foi o suficiente para provar que os outros sonhos impossíveis de cumprir podem ser esquecidos por um dia e que as fantasias que ficam por satisfazer na plenitude têm o poder de deixar sorrisos.
Não sei o nome dele. Não quero saber. Tem o nome do meu sonho e o apelido que lhe dei e que lhe dará o carácter inesquecível que ao imortalizar um sonho, adquiriu.
Não sei se a sua voz seria suave e arrepiante como imaginei que seria. Não sei se continuaria fascinada por ele depois de o conhecer. Não sei se o voltarei a encontrar, mas certamente que o irei rever, muitas vezes, vezes sem conta. Não sei se o seu sorriso era sincero como achei que era.
Mas sei que todos os sorrisos, todas as gargalhadas, todos os segredos, todas as admirações e comentários meus, foram de facto, verdadeiros e felizes.
Sei que não trocaria nenhum segundo perfeito que gastei a olhá-lo, a admirar a sua perfeição irrevogável. Sei que não quebraria a barreira do encanto ao dirigir-lhe a palavra. Sei que o adorei. E sei que não o trocaria por qualquer outro melhor. Porque o que idealizamos nos sonhos é sempre, o melhor. O mais perfeito!


Pte de Lima, 19-07-2009.

despertar.

Despertar

“O tempo passa. Mesmo quando tal parece impossível. Mesmo quando cada tiquetaque do ponteiro dos segundos dói com o palpitar do sangue sob a ferida. Passa de forma irregular, em estranhos avanços e pausas que se arrastam. Mas, lá passar, passa. Até para mim.”


Stephenie Meyer, Lua Nova.



É verdade. O tempo passa. E com ele passam as pessoas, passam os detalhes das recordações mais vulgares, passam mágoas, medos, incertezas, amores e dores incontroláveis.

Passar, passam. Mesmo que o facto de passarem não implique que realmente morreram e que seja “como se nunca tivessem existido”. Nem o tempo, pode apagar definitivamente qualquer acontecimento importante.

Mesmo às vezes, quando tentamos fazer com que passe rápido porque os segundos batem dificilmente, abrindo um fosso na plenitude.

Mesmo enquanto tentamos ignorar uma realidade e o fazemos todos os dias, o tempo passa. Penosamente. Num ritmo marcado, tic-tac, tic-tac, rotineiro, assustador. Infernal.

Mas passar passa. Não leva com ele o que queríamos que nunca tivesse acontecido, mas pelo menos diminui a frequência das lembranças penosas, ameniza o latejar da cabeça e deixa o peito doer raras vezes.

Passar, passa. E mesmo que não dê solução aos problemas, lentamente, deixamo-nos de os recordar tão firmemente, transformando-os numa vaga recordação ou numa memória insensível e cruel, quase como um impiedoso vírus crónico, sem solução, sem cura, sem aviso. Sabemos que lá está. Sabemos que mais cedo, mais tarde, dará sinais da sua presença.

Mas o tempo, passar, passa. E mesmo que não solucione o que pretendíamos, há-de trazer de volta as oportunidades que precisamos para o ignorar e aproveitar o tempo que resta, tentando, de algum modo, enquanto bate o tic-tac regular dos ponteiros, ser feliz.

Mas passar, passa.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

sabe bem.

O futuro dos outros é bem mais fácil de decidir do que o nosso. Aliás, tudo o que diz respeito aos outros tende a parecer sempre mais simples para nós. De facto, “com os problemas dos outros posso eu bem!” e o mesmo se passa para as simples decisões que irão condicionar as suas vidas de amanhã.
Basta dizer algumas palavras, escutar as inseguranças, confortar, indicar a solução que parece mais adequada e desejar boa-sorte numa atitude amiga e positiva.
No entanto, quando se tratam das nossas próprias decisões, tudo se torna um pouco mais complicado.
Conhecemos as nossas limitações, os nossos pontos fortes e os fracos, os nossos medos, as nossas expectativas, os nossos sonhos e as nossas dificuldades em lidar com realidades novas.
Face a uma decisão importante, perdemos a plenitude. O sono tarda, as voltas na cama somam-se às inúmeras perguntas que fazemos àqueles em quem mais confiamos e dos quais esperamos uma resposta sábia e sincera.
Arranjamos múltiplas hipóteses diferentes para solucionar o mesmo problema e desesperamos quando nenhuma parece fazer sentido.



No entanto, apesar das dificuldades sentidas, apesar das horas de sono perdidas, apesar das angústias vividas, sabe bem.

Sabe bem ouvir todos os que nos são mais importantes indicarem as nossas qualidades e minimizando os defeitos, fazendo-nos parecer incrivelmente capazes.


Sabe bem encarar a decisão, insegura, mas com a certeza de quem além de nós há mais quem acredite no sucesso futuro que virá com aquele passo cuidado.

Sabe bem escolher, preencher um espaço branco e seleccionar as opções pretendidas.


Sabe bem olhar um sopro de papel onde depositámos cuidadosamente as escolhas de uma vida e

onde selámos os sonhos de uma esperança feliz.


Sabe bem, muito bem, olhar o horizonte, lembrar o que ficou para trás, o que tivemos de deixar, o que perdemos por medo, com saudade, com brilho e uma lágrima de melancolia.

Sabe bem, encontrar uma mudança. Mas sabe melhor, ao encontrá-la, ter por perto aqueles que fazem parte das recordações e aqueles que foram, são e esperamos que sejam, os mais importantes.

AnaCatarina'

terça-feira, 14 de julho de 2009

ainda bem.

“-Porque é que não fazes das tuas palavras, as tuas palavras de facto? – Já não o dizia por ela, uma vez que não tinha esperanças de o ter como seu, um dia.

-O que é que disseste?
-Isso mesmo! Tudo o que dizes é correcto, é imensamente sensato e racional. Quando falas pareces sempre tão feliz, tão contente com a vida que levas… Foges da rotina e só queres novidades para ostentar a ideia de que és a aventura em pessoa, que és o risco foi feito pra ti! Mas só fazes isso, só finges, para esconder o que és de facto!
-Não estou a perceber.
-Percebes. E percebes muito bem. Foges do que sentes e começas de novo, nunca deixas que nada siga o seu percurso natural. És sensato e finges agir de acordo com o que sentes. Mas nem sequer és capaz de o mostrar verdadeiramente! Nem de o assumir. Quantas vezes pediste desculpas? Ou quantas vezes disseste a uma rapariga, sem medo do que poderias ouvir, que a amavas?
-Algumas.
-Muitas? – e franziu o sobrolho, incitando a confessar-se.
-Nem por isso.
-E sabes porquê? Porque te recusas a mostrar-te. Preferes dar uma qualquer justificação, virar as costas e tentar esquecer e partir a seguir para uma realidade nova. Só pensas em mudanças despropositadas e encaras tudo o que fica para trás como uma coisa em que não se pode mexer, nem remediar. Tens medo de arriscar ou de perder alguns pontos no teu ego, tens medo de te magoar ou de deixar ficar mal alguém! Mas não percebes que assim só é pior?
-Tu não me percebes!
-Percebo percebo.
-Tu és igualzinha a mim!
-Parecida talvez, mas nunca deixei de tentar lutar por aquilo que me iria fazer feliz.
-Eu não sou assim.
-És és. E sabes bem disso. ”

-Disseste isso ao papá?
-Tive que dizer amor. Senão ele ia acabar por perder todas as pessoas que amava, só por teimosia.
-E depois mamã?
-Depois? (-Depois, ainda bem que eu quando gostava de alguém era mesmo a sério. Ele procurou-me passado umas semanas, no sitio do costume, à hora do costume. E disse num sussurro quase impossível: “amo-te!”. E abraçou-me, para agradecer a espera. “Ainda bem que ficaste.” Mas eu podia não o ter feito.) – Depois princesa, ficou tudo bem.
-Ainda bem que lhe disseste todas essas coisas e que esperaste por ele. Mas, e se tivesses ido embora antes de ele chegar? Não seriam felizes nunca mais?
-Não sei amor. Não sei mesmo.
-Ainda bem que soubeste esperar.
-Ainda bem que o papá me ouviu.
-Ainda bem.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

AABMS

Mesmo que quisesse (e não quero), não saberia dizer-te o quanto me és e o quanto significas para mim. Não quero fazê-lo porque é na imaginação e na capacidade para colocar dúvidas que reside a maior e mais verdadeira beleza de ter uma amiga realmente importante.

Quando nos conhecemos foi estranho. Éramos muito parecidas, tínhamos muitas coisas em comum e inúmeras afinidades. Mas não nos conhecíamos. Éramos desconhecidas. E isso assustava. Era surreal, quase, vermos alguém tão como nós.

Depois, com o tempo (e não foi preciso muito sequer), fomos deixando as sensações estranhas darem lugar a outras bem melhores.

Começaste a ser uma parte normal da minha rotina, foste sendo sempre mais e mais e mais necessária, tornaste-te numa boa ouvinte, numa grande conselheira e numa fantástica confidente. E num curto espaço de tempo, construímos juntas, uma das amizades mais importantes que tenho!

O tempo foi passando e por força das circunstâncias, deixámo-nos de nos ver frequentemente, as conversas tornaram-se ocasionais e os contactos mais raros. Mas se pensámos que isso fosse relegar para outro plano aquilo que éramos, enganámo-nos. Enganei-me. Só ficamos mais próximas ainda.

Por muito raras que tenham sido as conversas, cada uma delas significou mil e um diálogos que teríamos habitualmente travado.

A confiança aumentou sem dúvida com a distância.

És talvez das poucas pessoas que me compreende realmente, sem precisar de muitas palavras. Sabes sempre o que eu quero dizer e sabemos mesmo muito bem, que por trás de cada palavra nossa, há sempre alguma coisa que não precisamos contar ou admitir para que se saiba.

Conheces-me muito bem, sem que eu nunca tenha precisado de me mostrar.

Nunca saberei definir-te. Nunca.

Amiga, querida, atenta, carinhosa, compreensiva, preocupada, querida, simpática, fantástica? É pouco, tão pouco.

És tão maior que as palavras!

Tens defeitos? Claro! Também eu, também todos os outros.
Mas o melhor é que com tudo o que és, consegues ser das melhores pessoas que conheço.

Consegues ser, sem qualquer dúvida, fingimento ou hipocrisia, das melhores amigas, das mais importantes, das mais insubstituíveis.

Consegues brilhar, onde quer que estejas. Consegues ser única e sincera. Consegues ser tão especial em tudo o que fazes.

És perfeita. És para sempre.




Adoro-teeee *

Tempo pra ter.


Estar de férias implica (nem sempre) ter tempo disponível para:
-fazer coisas que habitualmente não fazemos por falta de tempo;
-fazer coisas que só se fazem nas férias;
-e para ter, simplesmente, tempo.

Quando digo que tenho tempo apenas para ter tempo, significa, que nessas alturas estou a dedicar-me à inexplicavelmente agradável actividade do ócio (traduzindo por miúdos, são alturas em que não faço mesmo nada, com o pleno uso da palavra!).

Há dias, num desses momentos, em que as escadas de casa viradas para os inúmeros terrenos verdes de cultivo me pareceram inspiradoras de raciocínios avassaladores, dei por mim a pensar (às vezes acontece!) em coisas sem lógica (acontece muitas vezes!).

Estava na hora de maior calor, ao inicio da tardinha. Os campos estavam despovoados. Houve, decerto, uma migração ocasional para as habitações, da parte dos agricultores. Ou então foram à praia!
Se eles foram, porque é que eu não vou?

(Et voilà, cheguei à fantástica constatação que possibilitou este testemunho!)

Não sei nadar!

Depois, pus-me a imaginar assim uma praia bonita, com poucas pessoas, uma brisa suave, com o som agradável da rebentação das ondas, com o cheiro a mar (e a protector solar) (mas sem os habituais vendedores de bolacha americana ou bolas de Berlim ou outros doces, que eu ando em dieta!).

Ora bem, partindo desta paisagem (quase parecida aqui com a minha Pateira!), imaginem comigo:

-Vou à praia, fico a esturrar ao sol e após o período de digestão decido ir até à água (saltamos a parte em que eu iria descrever a panóplia de sensações/recordações/impressões/…ões que se avivavam na memória à medida que ia avançando). Depois, enquanto sacudo os meus longos e bonitos cabelos castanhos e me volto para trás a acenar a um giraço qualquer que foi comigo até à praia, vai ao meu encontro uma atraente e simpática onda mais forte que as outras, que me arrasta com ela e dou por mim a afogar-me! E acabava assim a vida de uma jovem que não sabia nadar!

Ou então, continuem a imaginar comigo:

-Enquanto esbracejo, muito aflita, há um nadador-salvador que se apercebe e move com rapidez todo o seu aglomerado de músculos desenvolvidos e bronzeados, acompanhados de um cabelo castanho bonito e brilhante e de uns olhos verdes suaves como o seu sorriso. Nada, nada, nada e nada mais um pouco (porque eu sou leve e a corrente já me levou) e depois, alcança-me finalmente e leva-me para à praia (enquanto corre para mim e me salva, soa daquelas musicas dos filmes associadas aos feitos dos super-heróis).

Como é evidente fica preocupado com o estado de saúde de uma jovem tão frágil depois de uma atribulação daquelas e leva-me até à minha toalha, onde me acalma, pacientemente. Então, verifica que o seu turno já acabou e só para confirmar que ficarei realmente bem, convida-me para tomar café naquela noite e dá-me o seu número de telemóvel num instante acompanhado de um sorriso incrivelmente voluptuoso.

À noite, manda-me uma sms a dizer, que infelizmente há um qualquer piano ou instrumento musical de grande porte a impedir a sua saída e que talvez fosse melhor eu ir a casa dele. Como sou uma moça educada, não poderei declinar o convite e lá vou eu. (O resto do serão ficará para cada um imaginar à sua maneira, que eu já imaginei à minha) Depois de alguns etcs seremos felizes para sempre.

E iremos ao cinema com um dos meus melhores amigos e com a sua namorada fofinha, em Novembro, ver a estreia do filme “Lua Nova”.

E pronto, fim do tempo em que tinha apenas tempo para o ter.

Conclusão:
-Ás vezes ter muito tempo tem destas coisas;
-Tenho uma imaginação estonteante;
-Tudo tem duas perspectivas.

Desencontros

Porque é que as coisas não podem ser mais simples?

Era tão mais fácil se pudesse chegar, sentar e falar com qualquer pessoa como se a conhecesse há anos! Mas não, as pessoas tinham que ter personalidades tão complicadas! Ganhou-se o hábito de olhar, avaliar e só muito depois comunicar. Quer-se saber detalhes que não interessam a ninguém. Quer-se conhecer toda a gente sem ter de proferir uma única palavra. Acredita-se mais no “diz que disse” no que numa avaliação pessoal e cuidada. Põem-se pessoas de lado apenas porque sim.

Afinal, que mundo é este onde passamos uns pelos outros tantas vezes, frequentamos os mesmos lugares e, no entanto, agimos como se vivêssemos em planetas diferentes?

Metáforas

- "Antes de ti, Bella, a minha vida era como uma noite sem lua. Muito escura, onde havia estrelas, pontos de luz e de razão... Tu rasgaste o meu céu como um meteoro. De repente, ficou tudo em chamas; havia esplendor e beleza. Quando desapareceste, quando o meteoro caiu no horizonte, tudo ficou negro. Nada mudou. Contudo os meus olhos estavam encadeados com a luz e já não conseguia ver as estrelas, além de que nada tinha razão de ser.
(...)
- Os teus olhos hão de adaptar-se."
Stephenie Meyer, Lua Nova

terça-feira, 7 de julho de 2009

segunda-feira, 6 de julho de 2009

persusão.


Cada um de nós é pessoa mais difícil de persuadir.
Para atingir o que queremos, para aconselhar alguém, para fazer com que certa pessoa tenha um determinado comportamento, usamos o que temos ao nosso dispor, sempre, de modo a alcançar os objectivos traçados e prometidos ao nosso íntimo.

Damos exemplos de certas situações em que aquilo que defendemos deu bom resultado. Enumeramos razões lógicas e racionais para que faça o que gostaríamos que fizesse.
Apelamos a ideias emocionadas e inconsequentes que façam rir e descontrair para obter pontos a nosso favor e introduzirmos depois novamente ideias bem planeadas.
Invocamos casos conhecidos de sucesso, chamamos à baila os tradicionais provérbios de conhecimentos clássicos e fazemos um pequeno teatro sentimental em que misturamos os pontos fracos de quem queremos convencer e os pontos fortes de quem o quer.

E muitas das vezes, se formos perseverantes o suficiente e contarmos com a fortuna do nosso lado, levamos alguém a agir de acordo com o que pretendemos e com o que pensamos ser o mais correcto, beneficiando quem foi persuadido, beneficiando-nos a nós mesmos ou a outras pessoas quaisquer.

Porém, há alturas em que nos precisamos de persuadir a nós mesmos a tomar dadas atitudes que sabemos serem revestidas de sensatez.
Nessas situações tornamo-nos no ouvinte mais insatisfeito de sempre.

Nem exemplos que conhecemos de cor, nem ideias ou emoções, nem sonhos ou objectivos, nem citações ou provérbios sabiamente elaborados, nem máximas religiosas, nem teatros sentimentais em que se opõem duas vontades próprias, divisoras de comportamentos, servem para nos levar a fazer aquilo que é realmente o correcto e o que defendemos para os outros.

Refutamos tudo aquilo que já foi dito pelos sábios do mundo antigo, afastamos de nós as ideias bem pensadas e ignoramos o que deve ser feito.
Apesar de sabermos que sabemos bem o que tem de ser feito para sermos de alguma forma mais felizes ou bem sucedidos, não o fazemos.
Apesar de o proclamarmos em voz bem alta, condenando à irracionalidade quem de acordo com os nossos princípios não age, nós não o fazemos. E sabemos que isso é uma característica defeituosa da nossa máquina de pensar.

Pensamos demasiado no que poderá ser depois e afastamos aquilo que podemos ser agora, mesmo lidando com os resultados do que já foi e que não pudemos fazer diferente.

E erramos. Por defeito.

E depois então, proclamamos que devíamos ter feito de maneira diferente, arrependemo-nos sozinhos e ao lado do mundo do que gostávamos de mudar no ontem, hoje. Dizemos ao ar “ Aprendi agora. Vou mudar e ser bem melhor!”

E então, voltamos a persuadir os demais.

E então, porventura, voltamos a errar! Porque embora saibamos o que deve ser feito, não conseguimos ignorar as consequências possíveis e praticamente impossíveis que assustam as atitudes futuras.

Porque embora saibamos como persuadir aqueles que só de um sopro que os empurre precisam, nunca sabemos como afastar de nós os fantasmas que rodeiam o precipício do desconhecido, onde poderíamos mergulhar, onde poderíamos abrir as inúmeras portas diferentes que teríamos de encarar, onde poderíamos arriscar a sorte… Onde poderíamos saber onde estariam os limites das nossas vontades.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Serei?



Ás vezes penso na evolução que tivemos desde pequenos até ao agora, até à pessoa que somos.

Decerto, que muitas das características que hoje tenho já vêm desde que era uma garotita e que há marcas base, quer na fisionomia quer mesmo na personalidade, que nunca irão desaparecer. São então, as minhas características fortes, aquilo que nunca irá mudar, que não irá faltar numa recordação nem num espelho.

No entanto, há outras, que foram mudando com o tempo. A maneira de encarar certas situações alterou-se. Se antes, tudo o que era diferente do meu padrão habitual era considerado errado ou a evitar, agora tudo o que é diferente do padrão que levo, é possivelmente aceitável. Posso discordar ou considerar que não gosto, mas aceito-o, enquanto antes o repudiava e criticava porque não era o que eu fazia.

Antes, como criança que era os sonhos não eram só sonhos. Eram objectivos. Já quis ser música ou escritora, já quis encontrar a pessoa certa aos doze/treze anos e já quis mostrar que era mais que alguém e por isso podia, plenamente criticar todas as atitudes. Nessa altura, tudo isso fazia sentido.
Afinal, sonhos são indicações que devemos seguir firmemente.

Nesses anos ponderei entrar numa escola de música um bocado longe de casa e que implicaria viver longe aos 14 anos. Considerei também escrever uma espécie de diário de adolescentes confusas que comecei a escrevinhar antes de deitar, e que colocava todas as noites debaixo da almofada. Pensei também, que os amores que se sentiam eram para sempre e que se por acaso acabavam, nunca mais seria feliz.
Ainda bem que foram apenas ponderações.
Não fui para uma escola de música, nem escrevi um livro e muito menos deixei de ser feliz por causa de uma ou duas paixões mal acabadas.

De facto, ainda considero que os sonhos devam ser encarados como objectivos.

Mas na altura em que conclui isso pela primeira vez faltavam-me muitas particularidades para que pudesse agir, um pouco mais correctamente. Faltava-me sensatez, imparcialidade, faltava-me ser mais compreensiva para com aquilo que existia para além de mim.

Hoje, acho que sou uma pessoa melhor. (Mas no passado também pensava que o era.) Nem sempre sigo os sonhos, porque alguns que não podem passar disso, porque sei que é melhor que não passem; nem sempre concordo com aquilo que a maioria das pessoas concorda, mas sei aceitar esses pontos de vista e sou muito mais compreensiva e imparcial do que antes; e sei, que os amores são para sempre recordar e que os há mais e menos importantes, mais ou menos possíveis, mais ou menos capazes de nos fazer felizes, mas nenhum significa o fim da felicidade. O fim de um amor pode significar o fim de um bom período mas nunca a impossibilidade de ser feliz. E mesmo aqueles amores, que nunca começaram, também não significam que não possamos ainda ser felizes, com aquele ou com outro sentimento, naquele ou noutro espaço de tempo.

Acho que sou por isto, e por muitas mais circunstâncias, uma pessoa melhor.

Serei? Talvez.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Jeitos de amar


Nenhuma forma de amar é a correcta. Não há regras, não há limites, não há pautas para incutir.

Quando se ama, mesmo quando apenas se pensa que se ama, ama-se da maneira que consideramos. Digam que se deve amar sem nunca perder um fio condutor da razão, digam que se deve amar sem pensar, digam que se deve amar com loucura e com completa alienação do real. Digam o que disserem, seja quem for, façam as teorias que fizerem. Tudo poderá ser sempre, em qualquer altura e por qualquer um, refutado.

Basta existir alguém que seja capaz de amar de uma maneira diferente daquela que se considera para que tudo o que se defende seja posto por terra.

Não existe uma forma de amar. Não existem duas nem três. Há milhões e milhões de maneiras. Cada um tem a sua. Muitos ou quase todos, têm até mais que uma.

E não há forma mais autêntica forma de amar que a que cada um toma. O que interessa se eu amo em segredo e se há alguém que diz que se deve assumir o amor? Ou o que interessa que eu ame e me pegue ao intelecto de vez a vez quando dizem que se deve amar sem limites?

Cada um leva uma forma de amar, agindo de acordo com o que acha mais correcto. Para essa pessoa, a verdadeira maneira de amar, é da sua maneira. Os que a rodeiam, podem concordar ou não com o estilo dessa pessoa. Concordando ou não, essa forma nunca poderá ser considerada errada ou acertada. Porque haverá quem a use e seja feliz, haverá quem a use e não encontre o que procura e haverá quem seja feliz de um outro modo completamente diferente.


A forma mais correcta de amar é simplesmente uma de tantas que for capaz de nos proporcionar os melhores momentos.


A melhor forma de amar é aquela que nos deixa felizes. Essa é sem dúvida, a única que pode ser irrefutável.

Uhm?!

Hoje reparei num anúncio de televisão à Maionese magra. Salvo engano, referem que 72% das pessoas que provaram o novo produto nem notaram sequer a diferença de paladar entre a maionese normal e a magra.


Após uma rápida análise, conclui que o publico alvo desta publicidade seria:
· Pessoas que gostem de maionese!
· Pessoas que gostem de maionese mas pretendem manter a linha (ou corrigi-la) ou levar a cabo uma alimentação mais saudável.


Ora bem, assim, pensei para mim:
· A publicidade já não é o que era. Devem existir abusivas quantidades de indivíduos que não gostem de maionese (a minha mãe!) e que não são contemplados por esta publicidade. Um anúncio que se preze deveria, além de captar a atenção dos consumidores de maionese, atrair novos consumidores. Mas não, prefere dirigir-se a um público mais restrito.
· Além de não ser o que era, agora fazem-se publicidades por fazer. Vejamos: a maionese não é um ingrediente utilizado em grandes somas nem numa vasta quantia de pratos. Logo, não é um produto que consumamos (isto para quem consome, porque como já referi, nem toda a gente gosta de maionese!) em quantidades abusivas de frascos de cada vez que vamos às compras. Assim, para quem quer reduzir o peso ou manter a linha, irá realmente cortar nas raras calorias que ingere de vez a vez, com a maionese?
Claro que aqui podem usar o argumento “ah e tal, é mais saudável!” Está certo. É. Poderá ser. Mas será que o adjectivo “magra” se adequa ao preço? Ou pelo contrário pela fabulosa maionese magra pagaremos os nutrientes, ingredientes, proteínas, ácidos, gorduras e a componente “ ah e tal, é mais saudável”? Se for assim, talvez a maionese magra saia um pouco mais gorda que a não é magra!
E cá temos de novo o público-alvo a reduzir! Quem gosta, quem quer emagrecer, quem quer ser saudável e quem pode pagar por uma maionese magra mais gorda que a outra em termos “centimentais” (de cêntimos = €).
· Se calhar, esta publicidade tem um fim que não descortinei ao inicio da análise: aumentar o tempo ou só mesmo a variedade de anúncios que passam nos intervalos das novelas.


Prosseguindo o meu raciocínio:
Em 100 pessoas, 72 não notaram a diferença no gosto das maioneses (Logo, 28 pessoas notaram). Mas se a maionese não é um ingrediente consumido em grandes quantias e em várias refeições, como poderiam as 72 pessoas notar a diferença? Ou então, supondo que eu quero ser mais saudável, ou manter a linha ou emagrecer, adquiro um frasco de maionese magra e pertenço aos 28% de pessoas que notaram a diferença, e até nem gosto da maionese? Ou então, se for dos 72% que não sente a diferença e me questionar se não estarei a ser ludibriada, pagando e acreditando numa maionese mais saudável e estiver a consumir a mesma que antes, mas a um preço maior?


Se eu desenvolvi este vasto raciocínio, coloco agora duas últimas questões:
· Não é de pensar que todos os que gostam de maionese se tenham colocado também em pelo menos uma das questões que eu a mim própria coloquei?
· Será que estou a dar muita importância a este assunto?