Tinha olhos escuros e o cabelo liso caído pelo meio das costas, os lábios finos e claros desenhavam-lhe imensos sorrisos sinceros e era das poucas raparigas que gostava de ir em pé nos autocarros e que adorava caminhar em passo acelerado pelas calçadas. Chamavam-lhe Madalena.
Ele era imprevisível, arrebatador, fulgurante e pouco sensato. Mas também sabia ser sincero, meigo, terno e romântico. Fazia-a suspirar, revirar os olhos e imaginar mil e muitos cenários queridos. Também a deixava louca, esvaída em equilíbrio, confusa e com o ego em queda.
Chamavam-lhe amor, e noutros dias também paixão e ódio e nomes assim.
Madalena desenvolveu ao longo da sua vida uma propensão ultra dimensional para amar. Amou os pais e toda a família mais próxima, amou as barbies das quais cuidava com primor, amou as amigas que passavam fim de semanas com ela, amou os ursos de pelúcia e os estojos de maquilhagem que lhe ofereciam nos anos em estojos de cetim cor-de-rosa. Mais tarde amou os livros de aventuras que começou a ler e apaixonou-se pelo seu colega de carteira.
Amou de novo e novamente e depois outra e outra vez. Pelo meio e enquanto estes amores, amou as melhores e os melhores amigos, amou a escrita e a música, amou os sonhos e as fantasias, amou os segredos, amou os vícios e a melancolia.
Depois do ultimo amor quente, foi amando. Deu continuidade a todos os amores que mantinha religiosamente de há longos anos. Mas depois do ultimo e forte amor, deixou de amar para ir amando, diária e ocasionalmente. Ainda ontem, julgou ter encontrado no livro que comprou sobre a vida romana dos romanos em Roma na época do império Romano um amor sincero. Mas depressa se desiludiu. Era um amor dispendioso.
Mas voltou a amar e dessa vez, quinze minutos depois de uma desilusão, soube que naquele momento diria um alto sim a tudo o que lhe quisesse pedir aquele rosto. Era médio, moreno e tinha um piercing. Achou-o perfeito assim que o viu. Tinha um rosto sereno e fiel, umas mãos fortes e um olhar profundo. E soube que estava apaixonada quando o ouviu ceder o seu lugar para uma senhora quarentona, numa voz simpática e sincera, forte e branda, leve e perfeita. Teria ficado com ele para sempre, naquele momento. Mas as viagens de autocarro têm sempre uma paragem. E Madalena saiu antes dele.
É claro que Madalena voltou a amar. Mudou de penteado, mudou de amigos, mudou de expectativas e mudou de amores. Mas amou sempre e sempre soube que nem todos os seus amores seriam para sempre.
E era assim que Madalena e o amor tinham uma história.
1 comentário:
Ela que ame sempre. Sabe bem! Assim como também sabe bem, tão bem, ler-te=)
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