É incrível como nós somos seres de hábitos.
Não vestimos verdadeira e generalizadamente hábitos na sua forma óptima para conjugar o verbo vestir, mas vestimo-los, numa combinação de um estranho andante e evoluído primata que se afeiçoa às novidades e as entranha, depois de as estranhar, no seu eu diário ou ocasional regular.
Dividimos a sociedade em camadas distintas de opiniões.
Há quem seja contra as mudanças ontem, hoje e amanhã. Há quem não goste de divergências do normal ontem, as aceite hoje e amanhã as implemente, primeiro tímida e depois afincadamente. Há depois quem as faça ontem, as faça hoje e amanhã de novo feitas sejam as mudanças pelos mesmos.
Parece-me a mim que a camada intermédia se alarga num conceito de maioria. E os extremos ficam assim, nas pontas, onde se estreitam as quantias.
Ter hábitos é seguro e só os que são capazes de arriscar se aventuram em fazer mudanças. E por isso esses ficam nas pontas.
Continuar nos hábitos, quando podemos calcar caminhos por traçar, também é um risco. Ir por onde todos vão, encontrar o que todos encontram, colher o que todos colhem, ver o que todos vêm… Corre-se o risco de ser o que os outros são. Corre-se o risco de se ser só mais um no meio de tantos. E corre-se o risco que depois da partida se seja não aquele que foi, mas só mais um que deixa espaço para quem há-de vir.
Os hábitos vêm das mudanças. São mudanças que se acomodam porque foram capazes de nos cativar e nós fomos capazes de as aprisionar inteiras naquilo a que chamamos de rotina.
E a rotina, pese embora seja segura, cansa às vezes.
Cansa ela, cansam os hábitos, cansam as mudanças que os provocam e cansamo-nos nós que provocados fomos pelo destino das coisas que descontroladamente controlamos.
Como há hábitos, cansaços e pessoas, há padrões de hábitos, de cansaços e de pessoas.
Há o branco que veste bem com o preto mas a branca que já não casa com o preto. Há o fantástico no ele ser maior e ela ser mais pequena. Há o fantástico nele sair e ela ficar em casa. Há o bonito sem adereços conventuais. Há o bonito nos traços normais. Há o ‘que bem que fica’ em falar igual. Há o ‘maravilhosamente correcto’ em fazer o que toda a gente acha bem. Há o perfeito na Barbie que fica com o Ken.
A culpa é dos fabricantes de bonecas, apetece-me dizer, que fazem a Barbie para casar com o Ken. E aí, aprende-se, ou desaprende-se conforme o ponto de vista, a ver a vida com olhos já cansados de novidades. E fecham-se sempre os olhos às mudanças, às necessidades de ser diferentes, de pensar e agir diferente.
Porque é que a Barbie tem que ficar com o Ken? Porque é que o Branco fica melhor com o Preto? Porque é que só o tradicional permanece nas boas graças?
Mas nós, como seres de hábitos, habituamo-nos ao facto de haverem padrões desnecessariamente incorrectos. Habituamo-nos a que se ditem as regras do mundo e se aceitem se contestar.
Eu hoje, veto-as.
Faço uso daquilo que me foi concedido assim que nasci. Faço uso da minha condição feliz de habitante de um mundo inteiro. E veto-as.
Veto as regras e os padrões e os hábitos e as vulgaridades.
Hoje veto tudo o que não está bem e veto muita coisa.
Por mim, estas regras não passam.
E ainda que promulgadas sejam, eu farei um mundo à parte. Um onde a mudança viva sempre que a rotina falhe.
Mostrar mensagens com a etiqueta Pessoas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Pessoas. Mostrar todas as mensagens
sexta-feira, 28 de maio de 2010
domingo, 16 de maio de 2010
É sim.
As pessoas não gostam, usualmente, do escuro.
É que no escuro não se vê.
Não há formas, não há imagens nem visualizações do caminho.
Só podemos fazer previsões e seguir os instintos, só esperar que o que nos vai surpreender para lá do que não se vê não seja pior do que a previsão estranha que do desconhecido fazemos, apenas acreditar que no escuro não há só fantasmas esquecidos, só memórias que incomodam…
E amar é um pouco assim.
Amar é viver no escuro.
É ter os olhos abertos e sentir com o coração, orientando-nos (ou desorientando-nos) sem poder viver do que se vê, porque afinal, quando se ama, nem sempre o que se vê se torna claro. Vê-se e fica-se na dúvida se foi real. Vê-se e fica-se na dúvida se não terá sido imaginação de um dos nossos meros milhões de neurónios mais sentimentais e ingénuos.
Amar é assim.
Acreditar no que não se vê.
Confiar que está ali, mesmo sem ver.
Mesmo que não hajam sempre os abraços ou as demonstrações de carinho.
Mesmo que nem sempre as mãos se unam quando se queriam unidas.
Mesmo que as palavras não sejam ditas, orgulhosamente, de um modo meigo, para se mostrar que o afecto é real, que o amor existe, ali.
Amar é sentir esse amor nos dias preenchidos de luz e brilho e saber que esse sentimento nos deixa sinceramente felizes. E nos dias cinzentos, em que o escuro se abate, amar é continuar o sentimento de dias felizes, sem o poder impedir e sem poder evitar que dias sim e dias não, gostemos ou odiemos, o facto de amarmos alguém, de coração.
Amar é viver ansiedade, desejo, saudade, orgulho, confusão, medo, ciúme, passividade, alegria, confiança, desconfiança, angustia, paz… e vivê-lo tudo ao mesmo tempo e muitas vezes, no escuro.
Porque quem ama vive no escuro.
Quem ama, vive o que não se vê.
Lá no fundo, vê-se sempre.
Mas também não se vê.
Vêm-se os olhares e neles o sentimento de leitura de alma. Vêm-se os sorrisos de cumplicidade ou de piadas privadas. Vêm-se os toques discretos de sentimentos que incomodam a compostura.
Mas o amor, isso que nem se sabe o que é, não se vê, no seu estado mais puro. O amor fica no escuro. Age no escuro. Monta palco e actua lá, no escuro. Cai no escuro. Morre no escuro.
E o escuro não é onde ninguém fica cego.
É só onde ninguém sabe onde vai parar.
É onde se escondem os medos e os desejos.
É onde se duvida se se ama e se se terá caminho para andar.
É por isso que o amor é o mais perfeito sentimento. O melhor e o pior num só quarto escuro. O melhor e o pior num só pacote de chá que se toma, ocasionalmente ou inesperadamente. O mais doce e o mais amargo, no mesmo prato. O mais fácil e o mais difícil. O amo-te e o odeio-te. O quero-te e o não posso querer. O tenho-te ou será que não tenho? O abraça-me e o vai-te embora. O olha para mim e o esquece que já nos vimos. O vem ter comigo e o desaparece do mundo. O amas-me e o não me amas. O confio e o mas mesmo assim… O eu quero ser e o não sei se deva. É a luz e as trevas.
E tudo isto, num só pequeno e imprevisível sentimento. Amar é assim. É definir e acrescentar uma premissa final onde afirmamos que nada sabemos do que é amar.
Amar é viver no escuro. E às vezes temos medo do escuro.
É. É difícil amar.
É que no escuro não se vê.
Não há formas, não há imagens nem visualizações do caminho.
Só podemos fazer previsões e seguir os instintos, só esperar que o que nos vai surpreender para lá do que não se vê não seja pior do que a previsão estranha que do desconhecido fazemos, apenas acreditar que no escuro não há só fantasmas esquecidos, só memórias que incomodam…
E amar é um pouco assim.
Amar é viver no escuro.
É ter os olhos abertos e sentir com o coração, orientando-nos (ou desorientando-nos) sem poder viver do que se vê, porque afinal, quando se ama, nem sempre o que se vê se torna claro. Vê-se e fica-se na dúvida se foi real. Vê-se e fica-se na dúvida se não terá sido imaginação de um dos nossos meros milhões de neurónios mais sentimentais e ingénuos.
Amar é assim.
Acreditar no que não se vê.
Confiar que está ali, mesmo sem ver.
Mesmo que não hajam sempre os abraços ou as demonstrações de carinho.
Mesmo que nem sempre as mãos se unam quando se queriam unidas.
Mesmo que as palavras não sejam ditas, orgulhosamente, de um modo meigo, para se mostrar que o afecto é real, que o amor existe, ali.
Amar é sentir esse amor nos dias preenchidos de luz e brilho e saber que esse sentimento nos deixa sinceramente felizes. E nos dias cinzentos, em que o escuro se abate, amar é continuar o sentimento de dias felizes, sem o poder impedir e sem poder evitar que dias sim e dias não, gostemos ou odiemos, o facto de amarmos alguém, de coração.
Amar é viver ansiedade, desejo, saudade, orgulho, confusão, medo, ciúme, passividade, alegria, confiança, desconfiança, angustia, paz… e vivê-lo tudo ao mesmo tempo e muitas vezes, no escuro.
Porque quem ama vive no escuro.
Quem ama, vive o que não se vê.
Lá no fundo, vê-se sempre.
Mas também não se vê.
Vêm-se os olhares e neles o sentimento de leitura de alma. Vêm-se os sorrisos de cumplicidade ou de piadas privadas. Vêm-se os toques discretos de sentimentos que incomodam a compostura.
Mas o amor, isso que nem se sabe o que é, não se vê, no seu estado mais puro. O amor fica no escuro. Age no escuro. Monta palco e actua lá, no escuro. Cai no escuro. Morre no escuro.
E o escuro não é onde ninguém fica cego.
É só onde ninguém sabe onde vai parar.
É onde se escondem os medos e os desejos.
É onde se duvida se se ama e se se terá caminho para andar.
É por isso que o amor é o mais perfeito sentimento. O melhor e o pior num só quarto escuro. O melhor e o pior num só pacote de chá que se toma, ocasionalmente ou inesperadamente. O mais doce e o mais amargo, no mesmo prato. O mais fácil e o mais difícil. O amo-te e o odeio-te. O quero-te e o não posso querer. O tenho-te ou será que não tenho? O abraça-me e o vai-te embora. O olha para mim e o esquece que já nos vimos. O vem ter comigo e o desaparece do mundo. O amas-me e o não me amas. O confio e o mas mesmo assim… O eu quero ser e o não sei se deva. É a luz e as trevas.
E tudo isto, num só pequeno e imprevisível sentimento. Amar é assim. É definir e acrescentar uma premissa final onde afirmamos que nada sabemos do que é amar.
Amar é viver no escuro. E às vezes temos medo do escuro.
É. É difícil amar.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Estrangeiros.
Passeavam-se em terras comuns aos dois mas eram os dois filhos do mundo. Apesar de presos a uma terra por um laço de comunhão de luz dada, o seu berço era originalmente, o ser. Acima de qualquer nacionalidade, ambas diferentes e opostamente interessantes, eram os dois filhos do cosmos, nascidos das estrelas, baptizados na aurora e crescidos sobre o manto da humanidade e dos valores de amor por ela dados.
Unidos no laço estreito de denominação natural das províncias e afastados pelos laços de ilusão que em volta dos andantes seres se acometem, apesar de se conhecerem e reconhecerem, eram estrangeiros na terra um do outro.
Sem mapas, sem indicações de profecias, sem dicas para alcançar o ‘x’ de um itinerário imaginado no estrelado do céu de uma noite de chuva, são estrangeiros perdidos na terra um do outro.
Pouco têm além da crença que os une e nem isso é finito, já que as crenças voam com o vento e as uniões só precisam de um ‘des’ para se tornarem em desuniões. De bolsos vazios como a mente em dias cinzentos, com as mãos descontroladamente irrequietas e os olhares perdidos nos horizontes da procura, caminham lado a lado, nas ruas de terra abatida pelos poetas que a palmilharam em busca das odes e das odisseias.
Não se orientam pelo sol nem pelas estrelas porque para se quererem orientar eram precisos objectivos a cumprir. E amor e objectivos conflituam-se no campo do rigor e do sentir, onde inflexibilidade e extravagância sentimental não combinam nem convivem nem coexistem de todo.
Calçam as botas. Descalçam as botas, sacodem as pedras e voltam a calçá-las. Põe o chapéu, tiram o chapéu, caminham ao vento sem botas e chapéus como se nus estivessem e sabem que vestidos ou não, completos ou não, pertencem ao cosmos, à crença, ao Criador, aos destinos…
E é por isso que sendo estrangeiros na terra um do outro, sem se conhecerem, se amam perfeitamente num acaso chamado hoje, num desconhecido chamado aqui, se vivem e se exploram, como quem descobre os mares de há cinco séculos.
E cada passo lhes parece uma rota nova, que traz aos estrangeiros perdidos nas terras um do outro, as especiarias de outrora, os tecidos do conforto, os odores do exotismo, as vistas dos novos mundos.
Caminham, lado a lado, passo sobre passo. Recuam, avançam. Sorriem e desviam os olhares.
Sem bússolas nem mapa, de mãos nas algibeiras, caminham lado a lado, dois estrangeiros, apaixonados.
Unidos no laço estreito de denominação natural das províncias e afastados pelos laços de ilusão que em volta dos andantes seres se acometem, apesar de se conhecerem e reconhecerem, eram estrangeiros na terra um do outro.
Sem mapas, sem indicações de profecias, sem dicas para alcançar o ‘x’ de um itinerário imaginado no estrelado do céu de uma noite de chuva, são estrangeiros perdidos na terra um do outro.
Pouco têm além da crença que os une e nem isso é finito, já que as crenças voam com o vento e as uniões só precisam de um ‘des’ para se tornarem em desuniões. De bolsos vazios como a mente em dias cinzentos, com as mãos descontroladamente irrequietas e os olhares perdidos nos horizontes da procura, caminham lado a lado, nas ruas de terra abatida pelos poetas que a palmilharam em busca das odes e das odisseias.
Não se orientam pelo sol nem pelas estrelas porque para se quererem orientar eram precisos objectivos a cumprir. E amor e objectivos conflituam-se no campo do rigor e do sentir, onde inflexibilidade e extravagância sentimental não combinam nem convivem nem coexistem de todo.
Calçam as botas. Descalçam as botas, sacodem as pedras e voltam a calçá-las. Põe o chapéu, tiram o chapéu, caminham ao vento sem botas e chapéus como se nus estivessem e sabem que vestidos ou não, completos ou não, pertencem ao cosmos, à crença, ao Criador, aos destinos…
E é por isso que sendo estrangeiros na terra um do outro, sem se conhecerem, se amam perfeitamente num acaso chamado hoje, num desconhecido chamado aqui, se vivem e se exploram, como quem descobre os mares de há cinco séculos.
E cada passo lhes parece uma rota nova, que traz aos estrangeiros perdidos nas terras um do outro, as especiarias de outrora, os tecidos do conforto, os odores do exotismo, as vistas dos novos mundos.
Caminham, lado a lado, passo sobre passo. Recuam, avançam. Sorriem e desviam os olhares.
Sem bússolas nem mapa, de mãos nas algibeiras, caminham lado a lado, dois estrangeiros, apaixonados.
sábado, 8 de maio de 2010
Eu gostar gostava.
Gostava de ser uma cientista louca, despenteada e genial ao ponto de inventar um gravador de alma. É que é incómoda a sensação que me fica quando tenho um pensamento extenso e perfeitamente lógico e mais tarde o quero corporizar e me fica o leve falsete do seu valor inicial. Só me ficam íntegros em si os verdadeiros pensamentos que ocupam uma quase inexistente parte do arquivo de coisas estupidamente fáceis de lembrar.
Gostava de um pôr-do-sol a dois, com chinelos e gargalhadas na areia, com brisas e maresia. Queria, dizia e tinha.
Queria ter em ti o reflexo do amor-perfeito. Sereno, sensível, querido, sincero, fiel, atrevido, seguro, modesto, carinhoso, inteligente, divertido, bondoso, preocupado, consciente, coerente, apaixonado, sensato, discreto, culto, educado, perspicaz, gentil, charmoso, sedutor, paciente. Então mudava aquilo que tinhas a mais, acrescentava doses do que estava a menos e fazia-te uns implantes totalmente genuínos do que não tinhas. E tinha.
Gostava de tantas coisas… e se eu pudesse, às vezes tornava-me numa egoísta crua, fria e insaciável de ambição. Perdia a ternura, o cor-de-rosa e mandava trancar as portas e as janelas do coração. Prendia as meninas dos olhos numa torre de razão e deixava-me cega, em ímpetos furiosos e egoístas. E nesse dia (e nesse dia apenas), eu iria fazer e ter o que gostava mesmo de ter e fazer.

Gostava mesmo de um clique que me parasse o tempo numa certa sensação. Ria-me, clicava e tinha.
Apetecia-me mesmo encontrar a certeza no olhar, no coração e na voz do alguém, que me fizessem saber as respostas sinceras daquilo que eu preciso saber para poder saber marcar o compasso. Olhava, sentia e via e tinha.
Estimava mesmo muito que tu estivesses ao meu lado, dissesses aquilo que eu queria ouvir, do modo como eu queria sentir. Chamava-te, ordenava-te, sentia-te e tinha.
Queria ser eu A pessoa, O anjo, O doce.
A pessoa que tivesse o valor de uma multidão e que tornasse o mundo perfeito quando imaginado apenas com duas pessoas.
Se não tiver esse valor todo e apenas contribuir para um mundo mais feliz então já não é A pessoa, é uma pessoa, é um anjo, um doce...
Então eu dizia-te, incutia-te e só tinhas de dizer que eu era A pessoa, O anjo e O doce na tua vida. E eu tinha.

Tinha tudo o que queria, à minha maneira.
Mas a vida e o mundo, na relação deles connosco, não nos deixam ser egoístas ao ponto de poder termos tudo o que adorávamos ter.
Por isso nem sempre temos o mar nem a companhia, ou o clique e as sensações, as certezas e o fim das dúvidas mortiças.
Por isso nem sempre ouvimos que somos A pessoa, O doce e O anjo.
E dificilmente teremos o reflexo do amor-perfeito que sonhamos.
Não terá nunca todas as qualidades que pretendíamos que tivesse.
Mas mesmo assim, mesmo que eu não o pudesse moldar, eu iria amá-lo.
Odiá-lo-ia, às vezes, por me fazer amá-lo demais.
Eu iria gostar dele e tê-lo como certo, como sincero de corpo e alma, como O meu único e exclusivo amor. Porque se eu gostasse mesmo dele não o iria moldar. Iria deixar os moldes de lado, tal seria a vontade de inventar horas no relógio para ter mais e mais tempo a fim de poder viver esse amor.
Porque quando se ama, não há nem conceitos nem preconceitos e muito menos pode haver egoísmo.
Não pode haver tempos perdidos a pensar em como iremos mudar alguém ou em tempos mortos só para ver como evoluem as pessoas no tempo, só com a esperança que alcance exactamente os níveis que pretendemos.
É por isso que Ele não nos deixa ser assim tão egoístas.
Seria o fim dos duos realizados, par a par.
Haveriam sim, conjuntos.
Uma voz chefe, dominantemente egoísta e outras várias vozes baixas e rebaixadas, bonitas e pequenas, expectantes do tempo certo para ascender ao sol, para brilhar no papel principal.
E nem Ele nem eu queremos isso.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Este aquilo...
Não penso no tempo útil e inútil que perco agora. Pensarei amanhã ou um dia depois quando me apresentarem a conta de horas perdidas por um sentimento tão grande e definidamente nosso.
Tenho controvérsia nos pensamentos. Distinções e preconceitos que eu não sei ter mas que sei que outros não sabem não ter. Tenho sal nas ternuras e mel nos ímpetos que me elevam numa das salas do nosso castelo.
Tenho em mim muito de muito e muito de muito que eu não sei o que será. Somos estrangeiros na terra um do outro e mesmo assim, queremos morar perto.
Somos aquilo que temos e que sabemos ser. Não somos as palavras de estima ou as de incentivo, não somos as palavras de consolo ou as de orgulho, não somos nem as palavras de carinho nem as de sedução. O que somos e nos aperta o peito num vazio pouco intermitente são os olhares discretos e voláteis, que ninguém sabe saber nem sentir. O que somos e nos faz fazer bem, reciprocamente, são os sorrisos que me fazem querer girar sobre mim, dançar mil vezes e cantar outras mil até que doa a voz e a vós vos irrite. O que somos e temos são os abraços que nos faltam e que ficam sempre a faltar…
Não sei não pensar, não sei não sentir, não sei não ter consciência, não sei preferir não compreender, não sei não sonhar, não sei não.
Só sei aquilo, que é um saber estranhamente sábio.
E apesar de tudo o que não sei e de tudo o que sei não saber, sei muito bem que em poucas palavras te posso dizer o que é aquilo. É que aquilo que se eleva emocionantemente incomodativo, aquilo que se ocupa dos pensamentos constitucionais de sonho, aquilo que voa em si num desejo lascivo de bem-querer, aquilo que se esboça num sorriso imperfeito e num brilho desmedidamente louco, aquilo é isto.
É isto mesmo.
E não há ninguém que me explique em menores palavras que aquilo é este.
Tenho controvérsia nos pensamentos. Distinções e preconceitos que eu não sei ter mas que sei que outros não sabem não ter. Tenho sal nas ternuras e mel nos ímpetos que me elevam numa das salas do nosso castelo.
Tenho em mim muito de muito e muito de muito que eu não sei o que será. Somos estrangeiros na terra um do outro e mesmo assim, queremos morar perto.
Somos, e somos mesmo, uma primeira pessoa do plural que apesar de definida entre si e por si, se vê num mar de pontos de interrogação que derivam em reticências.
Somos aquilo que temos e que sabemos ser. Não somos as palavras de estima ou as de incentivo, não somos as palavras de consolo ou as de orgulho, não somos nem as palavras de carinho nem as de sedução. O que somos e nos aperta o peito num vazio pouco intermitente são os olhares discretos e voláteis, que ninguém sabe saber nem sentir. O que somos e nos faz fazer bem, reciprocamente, são os sorrisos que me fazem querer girar sobre mim, dançar mil vezes e cantar outras mil até que doa a voz e a vós vos irrite. O que somos e temos são os abraços que nos faltam e que ficam sempre a faltar…
Não sei não pensar, não sei não sentir, não sei não ter consciência, não sei preferir não compreender, não sei não sonhar, não sei não.
Só sei aquilo, que é um saber estranhamente sábio.
E apesar de tudo o que não sei e de tudo o que sei não saber, sei muito bem que em poucas palavras te posso dizer o que é aquilo. É que aquilo que se eleva emocionantemente incomodativo, aquilo que se ocupa dos pensamentos constitucionais de sonho, aquilo que voa em si num desejo lascivo de bem-querer, aquilo que se esboça num sorriso imperfeito e num brilho desmedidamente louco, aquilo é isto.
É isto mesmo.
E não há ninguém que me explique em menores palavras que aquilo é este.
segunda-feira, 12 de abril de 2010
tesouros.
Certos dias, naqueles de céu azulado e nuvens intermitentes, o mundo, numa teia conspiradora e intimidativa, lança-nos no vago da nossa, terna, escura, estranha e pérfida, mente.
Há dias, azuis e brancos, esplendorosos, magnânimos, em que ao pensar no amor e nos outros nos apercebemos da importância das coisas, das grandes, das pequenas, das coisas banais, das coisas extravagantes. E damos por nós a pensar em nós, canalizando o raciocínio para a ponta mais baixa do ser.
Às vezes baixo-me em mim e encontro tesouros perdidos ao nível do chão. Parece-me que sempre ali estiveram… E depois, pego-os, limo-lhe as arestas provocadas pelo arrasto do tempo, dou-lhes brilho e pó de estrelas e sonhos e coloco-os na prateleira dos valores na segunda sala magna do edifício conjunto do ser, do pensar e do sentir.
Num dia azulado, virtuoso e branco, encontrei uma pedra preciosa e perdida. E perdi-me no rumo a dar-lhe. Os tesouros não devem ficar apenas guardados, devem fazer brilhar outros baús cujos donos ainda não souberam como atingir o nível do chão por não quererem perder o empinado no nariz.
Perdi-me porque era uma pedra brilhante e séria, sedutora e altiva, que me cativou e me baralhou, quando me perguntou para onde iria agora que eu a tinha achado. Disse-lhe em surdina que ela ficaria comigo mas que o brilho dela iria tornar azul o céu de outras pessoas e que ela deveria ficar orgulhosa por isso. E ela, atrevida como a cor dizia e o aspecto tosco e desleixado não indicava, interrogou-me, maleficamente, quem seria tão importante assim.
E aí descobri porque muitas pessoas não se baixam em busca de tesouros no chão de baixo: porque muitos deles são esqueletos incomodativos que ficam a perturbar a consciência e a almofada.
A verdade é que cometemos muitos erros a dar importância às pessoas. Em excesso e em defeito. O defeito leva-nos à auto-flagelação dormente. O excesso leva-nos à auto-humilhação, à auto-desilusão, à auto-destruição de mundos cor-de-rosa. Parece-me a mim que quando erro nos temperos o efeito é parecido. Se por defeito anda, fica-me a moer e a remoer o sabor sem sabor. Se em excesso me pareça, ainda que às vezes assim dele goste, quando passa abaixo e repousa, deixa-me a ingerir quantias anormais do que das fontes brota.
Assim, naquele dia azul, o tesouro foi polido, idolatrado e depois, ao cantar-lhe a canção de emprateleirar, disse-lhe que iria escrever sobre ele. Inchou-se e brilhou, cantou-me que nunca ninguém o tinha feito sentir-se tão brilhantemente importante.
O brilho dele ficou sempre na minha mão. E recordo-o enquanto procuro tornar mais claros os dias cinzentos e os dias com nuvens constantes. Recordo-o com a certeza de que os meus níveis de importância nos corpos estranhos ao relógio biológico estão hoje bem perto do certo e que por isso não preciso de pôr nem sal a mais nem sal a menos.
Há dias, azuis e brancos, esplendorosos, magnânimos, em que ao pensar no amor e nos outros nos apercebemos da importância das coisas, das grandes, das pequenas, das coisas banais, das coisas extravagantes. E damos por nós a pensar em nós, canalizando o raciocínio para a ponta mais baixa do ser.
Às vezes baixo-me em mim e encontro tesouros perdidos ao nível do chão. Parece-me que sempre ali estiveram… E depois, pego-os, limo-lhe as arestas provocadas pelo arrasto do tempo, dou-lhes brilho e pó de estrelas e sonhos e coloco-os na prateleira dos valores na segunda sala magna do edifício conjunto do ser, do pensar e do sentir.
Num dia azulado, virtuoso e branco, encontrei uma pedra preciosa e perdida. E perdi-me no rumo a dar-lhe. Os tesouros não devem ficar apenas guardados, devem fazer brilhar outros baús cujos donos ainda não souberam como atingir o nível do chão por não quererem perder o empinado no nariz.
Perdi-me porque era uma pedra brilhante e séria, sedutora e altiva, que me cativou e me baralhou, quando me perguntou para onde iria agora que eu a tinha achado. Disse-lhe em surdina que ela ficaria comigo mas que o brilho dela iria tornar azul o céu de outras pessoas e que ela deveria ficar orgulhosa por isso. E ela, atrevida como a cor dizia e o aspecto tosco e desleixado não indicava, interrogou-me, maleficamente, quem seria tão importante assim.
E aí descobri porque muitas pessoas não se baixam em busca de tesouros no chão de baixo: porque muitos deles são esqueletos incomodativos que ficam a perturbar a consciência e a almofada.
A verdade é que cometemos muitos erros a dar importância às pessoas. Em excesso e em defeito. O defeito leva-nos à auto-flagelação dormente. O excesso leva-nos à auto-humilhação, à auto-desilusão, à auto-destruição de mundos cor-de-rosa. Parece-me a mim que quando erro nos temperos o efeito é parecido. Se por defeito anda, fica-me a moer e a remoer o sabor sem sabor. Se em excesso me pareça, ainda que às vezes assim dele goste, quando passa abaixo e repousa, deixa-me a ingerir quantias anormais do que das fontes brota.
Assim, naquele dia azul, o tesouro foi polido, idolatrado e depois, ao cantar-lhe a canção de emprateleirar, disse-lhe que iria escrever sobre ele. Inchou-se e brilhou, cantou-me que nunca ninguém o tinha feito sentir-se tão brilhantemente importante.
O brilho dele ficou sempre na minha mão. E recordo-o enquanto procuro tornar mais claros os dias cinzentos e os dias com nuvens constantes. Recordo-o com a certeza de que os meus níveis de importância nos corpos estranhos ao relógio biológico estão hoje bem perto do certo e que por isso não preciso de pôr nem sal a mais nem sal a menos.
Subscrever:
Mensagens (Atom)