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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Retornada.

Quando se vai, há alturas em que apetece regressar, como quem passeia pelas ruas cinzentas de um dia de Inverno e apressa o passo ao voltar a casa, só para apreciar na plenitude a serenidade confortável do ambiente protegido.
Mas o querer tem tanto que se lhe diga… principalmente quando querer não casa com poder. Para voltar é preciso encontrar um tempo certo, um je ne sais quoi mágico que o mundo nos oferece, generosamente, e que embora não sintamos com consciência, aproveitemos para retornar, instintivamente.
Engana-se quem pensa que ir e voltar é tão somente isso, dois verbos que combinam melodiosamente.
Vai-se e volta-se… E o tanto que perdemos ou ganhámos dita-nos as mudanças com que nos devemos deparar quando pararmos, aqui ou ali, a fim de contar o que nos resta da viagem. Esvaziados os bolsos, depois de se ter visto o que ali ia e de ter sido feito o apuramento, o caminho fica mais leve e com o espaço exato para aquilo que os nossos e outros mundos nos têm para oferecer, se soubermos ver com o olhar certo.
Vai-se e volta-se e não se sabe bem para onde se regressa, porque o mundo gira, dancemos ou não com ele, façamos ou não a música que o acompanha. Querendo ou não as mudanças dão-se, mesmo quando nelas não tivemos uma escolha objetiva, e quando se volta é preciso aceitar o mundo como está, antes de o alterarmos ao nosso bel prazer.
Fui e vim, e hoje volto aqui com esse tal quê de brilho encantado que não me pesa em lado algum e ao invés disso me eleva num sorriso pleno. Podia ter vindo em tantos outros dias mas é hoje que faz sentido, é agora que o meu suspiro me inspira, de novo.
Afinal, estou em casa.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O sol à chuva.

É no brilho dos olhos dele que ela, do alto do ser que é, encontra o brilho certo do amanhã. E é depois ao sorrirem num momento sincronizado, que se envolvem, que se prometem, que se confidenciam…




Deu-lhe ela o sol em carta despropositada e ele em resposta mandou o céu regar os jardins do mundo, com pingos de pérolas e saraivas de sonhos. Não havia nem frio nem tempo algum, porque nos instantes todos que têm um do outro, é o tocar de mãos que dita a moda e o sentir.



E ao caminharem, lado a lado, distantes, sabem que é num e noutro que se encontram, como quem se perde e depois desiste e depois ao desistir afinal resiste. É ao viverem o amor num banco de dois, assistindo ao desenrolar da viagem e ao caminhar de todas as ovelhas que ficam na contagem, que os dois, pastores do sol, dos prados e dos céus estrelados, se voltam a apaixonar. Ontem pelo toque, hoje pelo olhar.



E enquanto os poetas escrevem as odes, fazem os amantes as historias delas, vivendo-as para alguém as escrever, sonhando-as para alguém as ler, sentindo-as para nelas ser não o único, mas o maior amor do mundo.



Sabem que amam. Sabem o que é o amor deles. Sabem o que são e o que querem ser e não faltaram à lição sobre a como olhar a dificuldade do amor em 365 dias por ano. Sabem-no e desejam, ainda que pastores, navegadores, exploradores ou conquistadores sejam, testar e provar outra teoria.



Uma teoria em que quando o mundo gira e o par respira num sopro de tempo a tempo, o mundo gira com mais força, em contra-tempo, alternando bateres de coração com pulsares da terra.



Uma teoria em que se comprove cada sentimento de uma caixinha de música presente nos corações próprios de quem ama, desde o azul da ternura ao cinzento do ciúme, passando pelo encarnado do bem-querer e pousando um leve e terno beijo no branco divino da plenitude.


Uma teoria que mostre a verdade dos sentimentos que se aglomeram em torno do sol. Ele que brilha. Não brilha mais do que senão por eles, por eles que se apaixonam. E é por eles também que chora o céu, num misto de inveja e sedução, de ciúme e ilusão.



Uma teoria que deixe claro que são estes amores apaixonados que movem o mundo, de olhos nos olhos. Esquece-se o céu e o sol das leis dos sábios de ontem e entregam-se à mercê do amor. Esse que as montanhas não move nem as estrelas faz cair, mas que faz chorar o céu e ao sol dá motivos para ser, viver e sentir.



É a teoria que comprova a letras grandes e distintas que o amor se ergue difícil no espaço. Leva nele o ser, o beijo e o abraço.



É a teoria que exige o respeito pela ideia de um sol derivado.

Rodopia pelo amor, pelo sério e pelo complicado.



E é nessa teoria em que o céu chove e o sol se apanha desprevenido que se sabe poder provar, que o amor é o acontecimento.
É o sol à chuva num momento.



O amor é isso. É o sol à chuva. Que ao mundo as cores da perfeição. Porque o sol à chuva, resulta nele. No arco-íris da entrega, do sonho, da vida, do mundo e do coração.

domingo, 16 de maio de 2010

É sim.

As pessoas não gostam, usualmente, do escuro.
É que no escuro não se vê.
Não há formas, não há imagens nem visualizações do caminho.
Só podemos fazer previsões e seguir os instintos, só esperar que o que nos vai surpreender para lá do que não se vê não seja pior do que a previsão estranha que do desconhecido fazemos, apenas acreditar que no escuro não há só fantasmas esquecidos, só memórias que incomodam…


E amar é um pouco assim.
Amar é viver no escuro.
É ter os olhos abertos e sentir com o coração, orientando-nos (ou desorientando-nos) sem poder viver do que se vê, porque afinal, quando se ama, nem sempre o que se vê se torna claro. Vê-se e fica-se na dúvida se foi real. Vê-se e fica-se na dúvida se não terá sido imaginação de um dos nossos meros milhões de neurónios mais sentimentais e ingénuos.

Amar é assim.
Acreditar no que não se vê.
Confiar que está ali, mesmo sem ver.
Mesmo que não hajam sempre os abraços ou as demonstrações de carinho.
Mesmo que nem sempre as mãos se unam quando se queriam unidas.
Mesmo que as palavras não sejam ditas, orgulhosamente, de um modo meigo, para se mostrar que o afecto é real, que o amor existe, ali.
Amar é sentir esse amor nos dias preenchidos de luz e brilho e saber que esse sentimento nos deixa sinceramente felizes. E nos dias cinzentos, em que o escuro se abate, amar é continuar o sentimento de dias felizes, sem o poder impedir e sem poder evitar que dias sim e dias não, gostemos ou odiemos, o facto de amarmos alguém, de coração.

Amar é viver ansiedade, desejo, saudade, orgulho, confusão, medo, ciúme, passividade, alegria, confiança, desconfiança, angustia, paz… e vivê-lo tudo ao mesmo tempo e muitas vezes, no escuro.
Porque quem ama vive no escuro.
Quem ama, vive o que não se vê.
Lá no fundo, vê-se sempre.
Mas também não se vê.

Vêm-se os olhares e neles o sentimento de leitura de alma. Vêm-se os sorrisos de cumplicidade ou de piadas privadas. Vêm-se os toques discretos de sentimentos que incomodam a compostura.

Mas o amor, isso que nem se sabe o que é, não se vê, no seu estado mais puro. O amor fica no escuro. Age no escuro. Monta palco e actua lá, no escuro. Cai no escuro. Morre no escuro.

E o escuro não é onde ninguém fica cego.
É só onde ninguém sabe onde vai parar.
É onde se escondem os medos e os desejos.
É onde se duvida se se ama e se se terá caminho para andar.

É por isso que o amor é o mais perfeito sentimento. O melhor e o pior num só quarto escuro. O melhor e o pior num só pacote de chá que se toma, ocasionalmente ou inesperadamente. O mais doce e o mais amargo, no mesmo prato. O mais fácil e o mais difícil. O amo-te e o odeio-te. O quero-te e o não posso querer. O tenho-te ou será que não tenho? O abraça-me e o vai-te embora. O olha para mim e o esquece que já nos vimos. O vem ter comigo e o desaparece do mundo. O amas-me e o não me amas. O confio e o mas mesmo assim… O eu quero ser e o não sei se deva. É a luz e as trevas.

E tudo isto, num só pequeno e imprevisível sentimento. Amar é assim. É definir e acrescentar uma premissa final onde afirmamos que nada sabemos do que é amar.

Amar é viver no escuro. E às vezes temos medo do escuro.

É. É difícil amar.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Estrangeiros.

Passeavam-se em terras comuns aos dois mas eram os dois filhos do mundo. Apesar de presos a uma terra por um laço de comunhão de luz dada, o seu berço era originalmente, o ser. Acima de qualquer nacionalidade, ambas diferentes e opostamente interessantes, eram os dois filhos do cosmos, nascidos das estrelas, baptizados na aurora e crescidos sobre o manto da humanidade e dos valores de amor por ela dados.


Unidos no laço estreito de denominação natural das províncias e afastados pelos laços de ilusão que em volta dos andantes seres se acometem, apesar de se conhecerem e reconhecerem, eram estrangeiros na terra um do outro.

Sem mapas, sem indicações de profecias, sem dicas para alcançar o ‘x’ de um itinerário imaginado no estrelado do céu de uma noite de chuva, são estrangeiros perdidos na terra um do outro.

Pouco têm além da crença que os une e nem isso é finito, já que as crenças voam com o vento e as uniões só precisam de um ‘des’ para se tornarem em desuniões. De bolsos vazios como a mente em dias cinzentos, com as mãos descontroladamente irrequietas e os olhares perdidos nos horizontes da procura, caminham lado a lado, nas ruas de terra abatida pelos poetas que a palmilharam em busca das odes e das odisseias.

Não se orientam pelo sol nem pelas estrelas porque para se quererem orientar eram precisos objectivos a cumprir. E amor e objectivos conflituam-se no campo do rigor e do sentir, onde inflexibilidade e extravagância sentimental não combinam nem convivem nem coexistem de todo.

Calçam as botas. Descalçam as botas, sacodem as pedras e voltam a calçá-las. Põe o chapéu, tiram o chapéu, caminham ao vento sem botas e chapéus como se nus estivessem e sabem que vestidos ou não, completos ou não, pertencem ao cosmos, à crença, ao Criador, aos destinos…

E é por isso que sendo estrangeiros na terra um do outro, sem se conhecerem, se amam perfeitamente num acaso chamado hoje, num desconhecido chamado aqui, se vivem e se exploram, como quem descobre os mares de há cinco séculos.

E cada passo lhes parece uma rota nova, que traz aos estrangeiros perdidos nas terras um do outro, as especiarias de outrora, os tecidos do conforto, os odores do exotismo, as vistas dos novos mundos.

Caminham, lado a lado, passo sobre passo. Recuam, avançam. Sorriem e desviam os olhares.
Sem bússolas nem mapa, de mãos nas algibeiras, caminham lado a lado, dois estrangeiros, apaixonados.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

pedra filosofal.

Hoje foi um dia cinzento, como tantos outros dias o são. E não seria um dia nada mais que cinzento não fosse o cinzento do dia. Uma coisa é ser um dia cinzento e outra é ter cinzento no dia. Quando se tem cinzento no dia é porque não houve brilho suficiente.


Hoje deixei a porta da câmara secreta entreaberta e parece-me que os avanços na descoberta da pedra filosofal se retraíram. E esta pedra filosofal não é só uma pedra. É a minha pedra. A mais bonita das que até hoje já vi e a que mais me fez estudar, pensar, esboçar, barafustar de um modo totalmente afortunado. E esta minha pedra ainda não está bem descoberta e muito menos está sequer definida em si. Além de saber que estou a projectar a felicidade num amanhã, através e com ela, não sei bem o que pode ser este meu tesouro.

Na minha câmara estavam outras coisas também… Havia o saco dos valores conquistados e a prateleira de princípios ensinados pelo mundo. Havia os sonhos do mundo melhor, os planos para o mundo perfeitamente correcto e os projectos de como transformar os mutantes andantes e falantes deste sítio onde vivemos em pessoas do mundo e para o mundo. A acrescentar estavam também os tesouros já limados, afincadamente polidos e devidamente emoldurados.

Porque é que só a minha pedra pequenina e incompleta teve que cair? Ou foi o vento? Não, nunca é o vento. O vento só sopra, não transforma as pedras em pó nem deixa que os planos para as ter serem amachucados.

Até já pensei em não me importar. Em esquecer a pedra e em ignorar no que ela iria, possivelmente, resultar. Chorava uns dias a sua perda, sentia a sua ausência e tentava deixar que a vida me mostrasse outra pedra bonita. Mas quem me diz que haverá outra pedra bonita? Quem me diz que haverá uma pedra que me faça saber o que está me fez? E quem me diz que eu só choraria uns dias, só sentiria a sua ausência de ânimo leve?

Já pensei em correr atrás de quem a levou, perguntar onde a deixaram e depois trazê-la de volta.

Já pensei em recomeçar. Se eu gosto dela e se acho que ela vale a pena… Se eu não perdi tudo o que ganhei dela… Se eu acho que vivo melhor com ela do que num mundo em que ela não exista…

A minha pedra filosofal é muito mais que qualquer outra pedrinha mágica. Além de ser a minha é a que eu quero ter. E não é contraditório em si querer algo que é meu, porque já vive no meu mundo.

E agora, antes que me fuja mais alguma coisa vou tentar fechar a porta da câmara secreta e voltar ao meu plano, com o caderno de apontamentos na mão, com os ouvidos a tentarem aprender o ritmo, com os olhos fixos no infinito que é nosso e com a vida presa nos limites que separam a existência da vida.

sábado, 8 de maio de 2010

Eu gostar gostava.

Gostava de ser uma cientista louca, despenteada e genial ao ponto de inventar um gravador de alma. É que é incómoda a sensação que me fica quando tenho um pensamento extenso e perfeitamente lógico e mais tarde o quero corporizar e me fica o leve falsete do seu valor inicial. Só me ficam íntegros em si os verdadeiros pensamentos que ocupam uma quase inexistente parte do arquivo de coisas estupidamente fáceis de lembrar.


Gostava de tantas coisas… e se eu pudesse, às vezes tornava-me numa egoísta crua, fria e insaciável de ambição. Perdia a ternura, o cor-de-rosa e mandava trancar as portas e as janelas do coração. Prendia as meninas dos olhos numa torre de razão e deixava-me cega, em ímpetos furiosos e egoístas. E nesse dia (e nesse dia apenas), eu iria fazer e ter o que gostava mesmo de ter e fazer.

Gostava de um pôr-do-sol a dois, com chinelos e gargalhadas na areia, com brisas e maresia. Queria, dizia e tinha.

Gostava mesmo de um clique que me parasse o tempo numa certa sensação. Ria-me, clicava e tinha.

Apetecia-me mesmo encontrar a certeza no olhar, no coração e na voz do alguém, que me fizessem saber as respostas sinceras daquilo que eu preciso saber para poder saber marcar o compasso. Olhava, sentia e via e tinha.

Estimava mesmo muito que tu estivesses ao meu lado, dissesses aquilo que eu queria ouvir, do modo como eu queria sentir. Chamava-te, ordenava-te, sentia-te e tinha.

Queria ser eu A pessoa, O anjo, O doce.
A pessoa que tivesse o valor de uma multidão e que tornasse o mundo perfeito quando imaginado apenas com duas pessoas.
Se não tiver esse valor todo e apenas contribuir para um mundo mais feliz então já não é A pessoa, é uma pessoa, é um anjo, um doce...
Então eu dizia-te, incutia-te e só tinhas de dizer que eu era A pessoa, O anjo e O doce na tua vida. E eu tinha.

Queria ter em ti o reflexo do amor-perfeito. Sereno, sensível, querido, sincero, fiel, atrevido, seguro, modesto, carinhoso, inteligente, divertido, bondoso, preocupado, consciente, coerente, apaixonado, sensato, discreto, culto, educado, perspicaz, gentil, charmoso, sedutor, paciente.
Então mudava aquilo que tinhas a mais, acrescentava doses do que estava a menos e fazia-te uns implantes totalmente genuínos do que não tinhas. E tinha.

Tinha tudo o que queria, à minha maneira.

Mas a vida e o mundo, na relação deles connosco, não nos deixam ser egoístas ao ponto de poder termos tudo o que adorávamos ter.
Por isso nem sempre temos o mar nem a companhia, ou o clique e as sensações, as certezas e o fim das dúvidas mortiças.
Por isso nem sempre ouvimos que somos A pessoa, O doce e O anjo.
E dificilmente teremos o reflexo do amor-perfeito que sonhamos.
Não terá nunca todas as qualidades que pretendíamos que tivesse.

Mas mesmo assim, mesmo que eu não o pudesse moldar, eu iria amá-lo.
Odiá-lo-ia, às vezes, por me fazer amá-lo demais.
Eu iria gostar dele e tê-lo como certo, como sincero de corpo e alma, como O meu único e exclusivo amor. Porque se eu gostasse mesmo dele não o iria moldar. Iria deixar os moldes de lado, tal seria a vontade de inventar horas no relógio para ter mais e mais tempo a fim de poder viver esse amor.
Porque quando se ama, não há nem conceitos nem preconceitos e muito menos pode haver egoísmo.
Não pode haver tempos perdidos a pensar em como iremos mudar alguém ou em tempos mortos só para ver como evoluem as pessoas no tempo, só com a esperança que alcance exactamente os níveis que pretendemos.

É por isso que Ele não nos deixa ser assim tão egoístas.
Seria o fim dos duos realizados, par a par.
Haveriam sim, conjuntos.
Uma voz chefe, dominantemente egoísta e outras várias vozes baixas e rebaixadas, bonitas e pequenas, expectantes do tempo certo para ascender ao sol, para brilhar no papel principal.
E nem Ele nem eu queremos isso.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Este aquilo...

Não penso no tempo útil e inútil que perco agora. Pensarei amanhã ou um dia depois quando me apresentarem a conta de horas perdidas por um sentimento tão grande e definidamente nosso.


Tenho controvérsia nos pensamentos. Distinções e preconceitos que eu não sei ter mas que sei que outros não sabem não ter. Tenho sal nas ternuras e mel nos ímpetos que me elevam numa das salas do nosso castelo.


Tenho em mim muito de muito e muito de muito que eu não sei o que será. Somos estrangeiros na terra um do outro e mesmo assim, queremos morar perto.


Somos, e somos mesmo, uma primeira pessoa do plural que apesar de definida entre si e por si, se vê num mar de pontos de interrogação que derivam em reticências.


Somos aquilo que temos e que sabemos ser. Não somos as palavras de estima ou as de incentivo, não somos as palavras de consolo ou as de orgulho, não somos nem as palavras de carinho nem as de sedução. O que somos e nos aperta o peito num vazio pouco intermitente são os olhares discretos e voláteis, que ninguém sabe saber nem sentir. O que somos e nos faz fazer bem, reciprocamente, são os sorrisos que me fazem querer girar sobre mim, dançar mil vezes e cantar outras mil até que doa a voz e a vós vos irrite. O que somos e temos são os abraços que nos faltam e que ficam sempre a faltar…


Não sei não pensar, não sei não sentir, não sei não ter consciência, não sei preferir não compreender, não sei não sonhar, não sei não.


Só sei aquilo, que é um saber estranhamente sábio.


E apesar de tudo o que não sei e de tudo o que sei não saber, sei muito bem que em poucas palavras te posso dizer o que é aquilo. É que aquilo que se eleva emocionantemente incomodativo, aquilo que se ocupa dos pensamentos constitucionais de sonho, aquilo que voa em si num desejo lascivo de bem-querer, aquilo que se esboça num sorriso imperfeito e num brilho desmedidamente louco, aquilo é isto.


É isto mesmo.


E não há ninguém que me explique em menores palavras que aquilo é este.