segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Vazio

Há espaços que já não nos pertencem, pessoas que não se encaixam, pensamentos que deixam de ser livres, comportamentos que já não são adequados e momentos que não nos preenchem como dantes. Tudo se desenrola como uma simples onda que à medida que avança sobre a costa traz consigo cada vez menos areia, tornando-se sucessivamente mais fraca, perdendo a intensidade de outros tempos, se é que alguma vez houve tanta intensidade assim.

Não creio que sejam os espaços, as pessoas, os pensamentos e os comportamentos que tenham mudado muito. No fundo, continuam todos lá. As mesmas caras, as mesmas paredes, os mesmos ambientes e as mesmas rotinas. A única diferença é que deixaram de fazer parte de mim. Deixei de lhes pertencer, se é que alguma vez pertenci realmente. Talvez a onda nunca tenha tido grande intensidade. Talvez seja eu que queira pensar que sim.

Pensar no passado pode, muitas vezes, ser traiçoeiro, especialmente quando esse passado está tão presente. Voltar fez-me reflectir sobre aquilo que poderia ter sido, que poderia ter feito, que poderia ter vivido e que poderia ter sentido. Sei que não tenho saudades dos espaços, das pessoas, dos pensamentos e dos comportamentos que me acompanharam. Quem me dera dizer que sim, porque quando sentimos saudades, isso significa que aquilo que nos faz falta existiu e nos foi especial. No entanto, aquilo que me faz falta simplesmente não existiu, ficando pendente num projecto nunca iniciado. Não culpo ninguém, nem me culpo a mim, pois sei que provavelmente se voltasse atrás não faria nada de extraordinariamente diferente. Apesar disso, não consigo evitar que um certo vazio me ocupe a memória quando olho em retrospectiva e também não consigo evitar que esse vazio interfira na pessoa que sou hoje.

Sei que não tenho saudades dos espaços, das pessoas, dos pensamentos e dos comportamentos. E agora sei que nunca lhes pertenci verdadeiramente. Definitivamente a onda nunca teve muita intensidade, limitando-se a avançar sobre a costa sem grande proveito, deixando que o tempo levasse embora os sonhos perdidos.

2 comentários:

Catarina. disse...

Oh André. Eu gostei imenso deste texto! Já tinha pensado um bocadinho sobre isto. E percebo bem o que sentes.. Eu sinto o mesmo.

Na altura as pessoas, os momentos e os lugares eram muito importantes. Eu pensava e ainda penso que foram importantes. Mas foram importantes no seu tempo e no seu lugar. No passado as coisas foram como foram. E foram importantes.

A verdade, é que aquilo que em tempos já foi, agora parece vago e absurdamente estranho.
Não sei bem se os nossos pensamentos tao a convergir, mas acho que consigo perceber aquilo que queres transmitir.

De qualquer das formas, eu tenho saudades das tuas conversas. Sei que foram e serão sempre importantes, porque acho que nem tu nem eu iremos mudar tanto ao ponto de as nossas conversas perderem totalmente o interesse.

Beijinho. *

Adriana;Diana disse...

Engraçado de certa forma já me tinhas dito isto...
E, mais uma vez, gostei do texto.
(:
Beijinho
Adriana