"Amo-te
Flávia", escrevera alguém, com spray preto, pintado e descurado, com
pressa e fervor, à imagem do amor que os impulsiona.
Numa reviravolta de
memórias, eu invejei a Flávia. A Flávia que não me conhece, a Flávia que tem um
apaixonado que se arrisca em obras de arte espontâneas para lhe provar um afeto
terno, a Flávia que ainda não sabe mas que um dia há de sentir falta da simplicidade
com que vive.
Menina de sorte, a
Flávia, que me deixa imaginá-la a corar quando chega ao portão da escola para
as aulas da manhã, que me deixa sonhar com os passeios de mãos dadas pelos
jardins que cirandam os limiares de um romance juvenil, que me deixa torcer
pelos sorrisos e pelos olhares secretos entre os rostos dos corredores
apinhados de correrias contrafeitas.
"Para
sempre" acrescentava e terminava assim esse Picasso apaixonado, mal sabendo
ele que estas pequenas promessas hão de ser lembradas um dia, com sorrisos
benevolentes, de quem recorda o passado com compreensão pela inconsciência da
altura.
Quando crescerem hão
de entender que a simplicidade do amor se esconde nas entrelinhas da vida e que
os pares de felicidade vão além dos sorrisos roubados nos furos de almoço. Mas
por agora, enquanto o presente é deles, espero que a Flávia agarre esse pintor
ousado e o deixe por perto, porque é preciso coragem para amar, quase tanta
como a que é precisa para se aventurar em obras de arte apaixonadas na via
pública.
Ainda não sabem, mas um dia hão de desejar, como eu, que o amor seja tão fácil de provar e de se sentir como um ''amo-te'' pintado a preto numa parede, visível aos olhos de todos os mundos mas oferecido por inteiro a um coração só.
3 comentários:
Ah Catarina! A vida e o amor têm tanto que se lhe diga...
E tu tens uma maneira tão doce de a explicar..
Não vás mais. Fica!
P.
És Flávia Catarina? :D
Às vezes gostava, gostava ;) *
Enviar um comentário