Fez-me pensar em várias coisas.
Às vezes há tudo outras vezes há nada. Normalmente há sempre nada e depois qualquer coisa aparece e transforma o nada em tudo. E às vezes, nada que entretanto já fora tudo, volta a nada, volta a cinzas e a pó.
E a esse pó, do qual somos todos criadores, todos somos alérgicos. Alérgicos à criação, não do tudo mas do nada, porque ninguém quer ter um nada, um nada é frio e só e vazio e triste e estranho. Ninguém vive no nada.
Quando temos nada estamos um bocadinho mortos. Ou a morrer ou a ressuscitar depois da quase falência.
Às vezes temos tudo. Temos os sorrisos, as promessas, os risos, as alegrias, os gritos e as emoções, os amores, as melhores amizades e as amizades eternas, os sonhos, os horizontes e as certezas.
Às vezes temos nada ou quase nada. Temos sorrisos vazios e leves, esvoaçantes. Temos alegrias projectadas em quando ainda havia tudo. Temos gritos e emoções e amores tristes. Às vezes quando temos nada não temos as melhores amizades e as amizades eternas, que ficaram com tudo. Os sonhos, os horizontes e as certezas estão debaixo do pó em que as certezas, os horizontes e os sonhos se transformaram.
Quando temos nada temos frio. Há cinzento e escuro, andamos em caminhos onde o acendedor de candeeiros que o principezinho conheceu não iluminou. Há casas, pessoas, caminhos, escolhas iguais, umas às outras. Quando há nada temos sempre alguma coisa. Mas são coisas que são nada. Porque o nada é triste. E o tudo é aquilo porque nos damos. O tudo, quando há tudo, até podemos nem ter nada, porque afinal, quando há tudo, nada importa.
Mas nem sempre há tudo. Às vezes há pó. E como somos alérgicos, ficamos vermelhos e choramos.
AnaCatarina