Depois de tanto tempo afastado do blog achei que era uma boa altura para recomeçar a escrever. Isto tem uma simples razão: a minha existência neste momento não tem proporcionado nada de produtivo para ninguém. Depois de frequências e exames parece que a única coisa que sei fazer é dormir e comer e não consigo fugir a isso. Chego a programar o despertador para a uma da tarde e não me consigo levantar. Vou muitas vezes buscar comida à cozinha e volto para a cama com um tabuleiro recheado para não ter de voltar ao frio das outras divisões da casa.
Foi na continuação deste meu estado vegetal que assisti a um programa na televisão em que os apresentadores perguntavam aos telespectadores se estes achavam que os portugueses eram desconfiados, pois um estudo recente revela que os portugueses são o povo mais desconfiado da Europa. Ora, na sequência desta notícia, não pude deixar de iniciar uma reflexão profunda sobre o tema. A conclusão a que cheguei foi: caramba, somos mesmo desconfiados!
Se repararmos, muitas das acções que praticamos desde que nos levantamos até nos deitarmos são baseadas na desconfiança, muitas vezes nem em nós próprios confiamos. Acontece frequentemente perguntar ao meu irmão se está frio lá fora e mesmo assim ir confirmar à janela. Quando aqueço a caneca de leite no microondas ponho sempre tempo a mais, nunca confiando que um minuto é suficiente. Quando acabo de lavar as mãos, olho sempre para trás para ver se fechei correctamente a torneira, não vá a conta da água surpreender-me no final do mês. Antes de sair de casa pratico sempre o ritual “chaves de casa, check; carteira, check; passe do metro, check”, pois sei que a minha atenção não é das melhores.
Mas esta desconfiança também se aplica aos outros. Desconfiamos sempre do que os outros dizem ou fazem. Quando alguém nos diz os horários do cinema, vamos sempre à Internet confirmar. Quando vamos ao supermercado confirmamos sempre o troco e o talão. Quando encontramos roupa muito barata à venda, desconfiamos sempre da sua qualidade. Quando usamos o GPS, apesar de sabermos que provavelmente todos os caminhos estão certos, não deixamos de estar constantemente a verificar a sua veracidade. Quando o Governo anuncia bons resultados na economia, nunca acreditamos verdadeiramente no método que utilizou para os calcular.
Enfim, passamos a nossa vida a desconfiar dos outros, de nós próprios, do que os outros dizem, do que nós próprios dizemos, do que os outros fazem ou do que nós próprios fazemos. A desconfiança está sempre lá. Nunca confiamos totalmente. É-nos impossível! Mas também é compreensível porque vivemos num país onde o governo dá o exemplo: embustes, imposturas, falsidades, corrupção, demagogia barata, populismo traiçoeiro, engano, e roubo dos que tudo declaram nos impostos e nenhuns subsídios têm (ao contrário dos que nada pagam e tudo lhes é subsidiado). Acham que assim dá para confiar em alguma coisa?