Aos olhos de quem vivia na terra, da terra e para a terra, isto nos tempos que já lá vão, as cartas de amor eram deprimentes e praticamente inexistentes. E facilmente se percebe. Que significado teria um pedaço de papel e letras pintadas, para quem, de mãos calejadas abre o invólucro da poesia, podendo ver o milagre da vida e do Criador, sempre e de perto?
Comparai a maior citação de amor ao simples pôr-do-sol e dizei-me de sua justiça o que de verdade parece mais autêntico, aos olhos de quem vive.
O príncipe, eterno apaixonado, permanecerá nos seus aposentos, cirandando e ditando as palavras que a sua donzela deverá ouvir. E alguém há-de lhe escrever essas palavras, alguém há-de selar o envelope e partir à socapa para entregar, como que um tesouro, à apaixonada do que ditou.
É um amor bonito, o poético. E estou certa que o amor verdadeiro não olha a formas.
Mas imaginai a época antiga.
Privilegiados eram os amantes do campo, que enamorados de uma moça lhe podiam mostrar o mundo ao invés de lhe escrever do sol, do mar, do vento e dos prados.
Camponeses, dariam as mãos, primeiro timidamente e depois, desajeitados, sem maneiras, porque a volúpia da procura atrapalharia os gestos. E contemplariam o que semeado estivesse, sempre juntos, com fervor no olhar.
Não teriam poesia a não ser toda aquela que sentiam.
O príncipe, dengoso, escrevê-la-ia. Encantaria os seus sonhos com as palavras. E depois, vivê-las-ia, talvez.
E um plebeu, afogado em fuligem, palha e pó, viveria o milagre da vida e do amor e ainda assim seria poesia.
A magia de um sentimento pode ser escrita e sentida nas palavras e os sonhadores apaixonar-se-ão, certamente.
Por isso amemos. Das torres do castelo ou da cabana de um vale, em vestes detalhadas ou em pele despida, com música e suspiros ou natureza e gemidos, amemos. Porque a vida não foi criada para sermos unicamente diferentes e termos acesso a amores diferentes. Foi criada e agradecidos estamos ao criador, para que amássemos, como pudermos. Com saias, sem saias.
Com poesia ou com brisas ao ar livre. Amemos, só.
4 comentários:
"Comparai a maior citação de amor ao simples pôr-do-sol e dizei-me de sua justiça o que de verdade parece mais autêntico, aos olhos de quem vive."
Os pôr e os nascer do sol... Não melhor magia do que essa, garanto-te. Não há melhor poesia do que aquela que o silêncio e o olhar nos cita.
As palavras leva-as o vento, o mesmo vento que o criador fez soprar...
Apenas os "milagres" da natureza são eternos, imutáveis....e apenas eles nos dão essa segurança que todos procuramos...mas poucos estão dispotos a dar.....
Por isso declaro aqui, fim ao reinado das palavras, aclamemos os sentimentos!
Olá Catarina.
Adoro a maneira como escreves. Não te terás enganado no curso? Devias certamente dedicar-te à escrita. Tens mto talento.
Bjkas
Adorei este texto Catarina! acho que devias estar cmg em ciencias da comunicacao! ou entao que tens que escrever um livro qd tiveres um tempinho. sabe bem ler-te!=)
beijinho* gosto de tiiii
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