Tenho controvérsia nos pensamentos. Distinções e preconceitos que eu não sei ter mas que sei que outros não sabem não ter. Tenho sal nas ternuras e mel nos ímpetos que me elevam numa das salas do nosso castelo.
Tenho em mim muito de muito e muito de muito que eu não sei o que será. Somos estrangeiros na terra um do outro e mesmo assim, queremos morar perto.
Somos, e somos mesmo, uma primeira pessoa do plural que apesar de definida entre si e por si, se vê num mar de pontos de interrogação que derivam em reticências.
Somos aquilo que temos e que sabemos ser. Não somos as palavras de estima ou as de incentivo, não somos as palavras de consolo ou as de orgulho, não somos nem as palavras de carinho nem as de sedução. O que somos e nos aperta o peito num vazio pouco intermitente são os olhares discretos e voláteis, que ninguém sabe saber nem sentir. O que somos e nos faz fazer bem, reciprocamente, são os sorrisos que me fazem querer girar sobre mim, dançar mil vezes e cantar outras mil até que doa a voz e a vós vos irrite. O que somos e temos são os abraços que nos faltam e que ficam sempre a faltar…
Não sei não pensar, não sei não sentir, não sei não ter consciência, não sei preferir não compreender, não sei não sonhar, não sei não.
Só sei aquilo, que é um saber estranhamente sábio.
E apesar de tudo o que não sei e de tudo o que sei não saber, sei muito bem que em poucas palavras te posso dizer o que é aquilo. É que aquilo que se eleva emocionantemente incomodativo, aquilo que se ocupa dos pensamentos constitucionais de sonho, aquilo que voa em si num desejo lascivo de bem-querer, aquilo que se esboça num sorriso imperfeito e num brilho desmedidamente louco, aquilo é isto.
É isto mesmo.
E não há ninguém que me explique em menores palavras que aquilo é este.