Gostava de tantas coisas… e se eu pudesse, às vezes tornava-me numa egoísta crua, fria e insaciável de ambição. Perdia a ternura, o cor-de-rosa e mandava trancar as portas e as janelas do coração. Prendia as meninas dos olhos numa torre de razão e deixava-me cega, em ímpetos furiosos e egoístas. E nesse dia (e nesse dia apenas), eu iria fazer e ter o que gostava mesmo de ter e fazer.
Gostava de um pôr-do-sol a dois, com chinelos e gargalhadas na areia, com brisas e maresia. Queria, dizia e tinha.
Gostava mesmo de um clique que me parasse o tempo numa certa sensação. Ria-me, clicava e tinha.
Apetecia-me mesmo encontrar a certeza no olhar, no coração e na voz do alguém, que me fizessem saber as respostas sinceras daquilo que eu preciso saber para poder saber marcar o compasso. Olhava, sentia e via e tinha.
Estimava mesmo muito que tu estivesses ao meu lado, dissesses aquilo que eu queria ouvir, do modo como eu queria sentir. Chamava-te, ordenava-te, sentia-te e tinha.
Queria ser eu A pessoa, O anjo, O doce.
A pessoa que tivesse o valor de uma multidão e que tornasse o mundo perfeito quando imaginado apenas com duas pessoas.
Se não tiver esse valor todo e apenas contribuir para um mundo mais feliz então já não é A pessoa, é uma pessoa, é um anjo, um doce...
Então eu dizia-te, incutia-te e só tinhas de dizer que eu era A pessoa, O anjo e O doce na tua vida. E eu tinha.
Queria ter em ti o reflexo do amor-perfeito. Sereno, sensível, querido, sincero, fiel, atrevido, seguro, modesto, carinhoso, inteligente, divertido, bondoso, preocupado, consciente, coerente, apaixonado, sensato, discreto, culto, educado, perspicaz, gentil, charmoso, sedutor, paciente.
Então mudava aquilo que tinhas a mais, acrescentava doses do que estava a menos e fazia-te uns implantes totalmente genuínos do que não tinhas. E tinha.Tinha tudo o que queria, à minha maneira.
Mas a vida e o mundo, na relação deles connosco, não nos deixam ser egoístas ao ponto de poder termos tudo o que adorávamos ter.
Por isso nem sempre temos o mar nem a companhia, ou o clique e as sensações, as certezas e o fim das dúvidas mortiças.
Por isso nem sempre ouvimos que somos A pessoa, O doce e O anjo.
E dificilmente teremos o reflexo do amor-perfeito que sonhamos.
Não terá nunca todas as qualidades que pretendíamos que tivesse.
Mas mesmo assim, mesmo que eu não o pudesse moldar, eu iria amá-lo.
Odiá-lo-ia, às vezes, por me fazer amá-lo demais.
Eu iria gostar dele e tê-lo como certo, como sincero de corpo e alma, como O meu único e exclusivo amor. Porque se eu gostasse mesmo dele não o iria moldar. Iria deixar os moldes de lado, tal seria a vontade de inventar horas no relógio para ter mais e mais tempo a fim de poder viver esse amor.
Porque quando se ama, não há nem conceitos nem preconceitos e muito menos pode haver egoísmo.
Não pode haver tempos perdidos a pensar em como iremos mudar alguém ou em tempos mortos só para ver como evoluem as pessoas no tempo, só com a esperança que alcance exactamente os níveis que pretendemos.
É por isso que Ele não nos deixa ser assim tão egoístas.
Seria o fim dos duos realizados, par a par.
Haveriam sim, conjuntos.
Uma voz chefe, dominantemente egoísta e outras várias vozes baixas e rebaixadas, bonitas e pequenas, expectantes do tempo certo para ascender ao sol, para brilhar no papel principal.
E nem Ele nem eu queremos isso.
1 comentário:
tenho saudades tuas !! :X
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