Caminhava sozinha, num final de tarde. A praia estava praticamente deserta. Afinal era Outono e o tempo quente e apetecível já lá ia.
Não havia nada tão bom como o tempo. Limava as arestas deixadas no final de cada luta interior, acalmava as angústias e as desilusões, repunha os sentimentos nos devidos lugares e transformava todos os impulsos em sensatez e sabedoria.
O tempo, era como as ondas do mar: trazia e levava, pintava e apagava e tirava e oferecia esperanças, com a mesma facilidade que uma onda deita ao mundo uma pequena concha e a recolhe, depois, para si.
Mas tal como as ondas, o tempo não apaga, apenas disfarça!
E naquele fim de tarde foram desenterradas muitas memórias que se achavam perdidas.
Há quanto tempo não era feliz?
Quanto tempo fazia que as gargalhadas não eram verdadeiras e que as piadas não faziam sentido? Há quanto tempo os sonhos eram relegados para um 'depois' de todo adiável? Há quanto tempo não fazia nada por si própria e se divertia?
As memórias reencontradas eram preciosas e antigas! Eram do tempo em que ela soubera amar sem medo de não ser correspondida. Eram do tempo das palavras e dos olhares brilhantes e sinceros e também do tempo em que se sentava ao final da tarde, acompanhada, a ver o pôr-do-sol.
Agora, eram apenas recordações. Os sonhos permaneciam bem como o amor que se mantinha inconfessável por medo.
E enquanto as ondas iam e vinham, iam e vinham, dia após dia, mês após mês, o tempo ia passando, deixando sempre os sentimentos presos e amedrontados no coração, como uma pérola brilhante e preciosa, demasiado valiosa para ser oferecida pelas ondas à areia e demasiado tímida para se dar a conhecer ao mundo.
2 comentários:
afinal de contas, nem sempre a natureza é condizente com o estado de espirito da personagem....
ou então não...
não podes separar o sujeito do predicado por uma virgula:P
tá bastante reflexivo
Acho que apesar do medo, esses sentimentos deviam ser todos soltos e dados a conhecer!
Hoje ainda há tempo. Amanhã.. Bem, amanhã já pode ser tarde demais e depois.. depois acabamos por perder as coisas pelo medo que tivemos de as assumir! Aí fracassamos, sentimo-nos inuteis, incapazes, tristes, desiludidos connosco e com a vida, arrependidos e muito pouco felizes!
(Enfrentar o medo não é fácil nem todos o conseguem fazer. menos ainda são aqueles que o vencem! mas enfrentá-lo, seja qual for o resultado final, torna-nos sempre mais fortes e sábios enquanto que fugir dele mantém-nos sempre na mesma e não faz com que cresçamos e aprendamos a lidar com as adversidades da vida!)
Gostei do texto! quero-te feliz =)
Beijinhos ******** aacmf
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