sábado, 9 de maio de 2009

O rio da vida


Nunca tinha pensado no facto de um rio representar tão bem aquilo que é a vida. Sentado sobre um muro de pedra desgastado pelo tempo, olhava para o rio que um dia viu partir os portugueses na descoberta do mundo. Reparei que eu próprio tenho balançado impavidamente naquelas ondas durante toda a minha vida, como se fosse uma pequena nau que ruma em direcção ao desconhecido.

Tal como um rio também eu nasci sem conhecer o caminho a seguir.

Cresci lentamente tentado contornar os obstáculos que surgiam e criei margens para impedir que eles nunca mais atrapalhassem a minha viagem.

Nos sítios que mais me agradaram formei pequenas ilhas e nos dias mais chuvosos envolvi-as para que nunca desaparecessem do meu caminho.

Aventurei-me inconsciente por descidas perigosas, sem saber ao certo onde iria parar.

Concebi ondas gigantes para que todos vissem o meu poder, mas também me mostrei fraco nos dias mais quentes de Verão, desintegrando-me pelo ar que circulava sobre mim, para que ninguém me visse.

Deixei que muitas pessoas se aproveitassem de mim sem reclamar e quando eu precisei delas, não hesitaram em abandonar-me, poluindo-me as águas, deixando danos irreparáveis, que para sempre permaneceram no meu leito.

Como um rio, também eu me renovo todos os dias, tentando dar alguma vitalidade ao meu percurso. No entanto sei que ele está irremediavelmente traçado e sinto-me impotente e inútil em relação ao meu próprio destino. Desejo todos os dias mudar o rumo que já escolhi e evitar a chegada da foz, mas sei que ela me espera com todos os perigos inerentes.

Tal como um rio também eu continuo a percorrer inevitavelmente um rumo em direcção ao desconhecido, sem saber ao certo a dimensão e características do oceano que me espera.

No entanto, quando o sol já pousava sobre o Ocidente, concluí que a vida humana não é exactamente como um rio. Não estamos assim tão presos ao nosso percurso. E mesmo que estejamos, temos sempre a hipótese de ignorar e acreditar que tudo está bem. Tudo tem solução. Sabemos que um dia enfrentaremos um oceano, mas cabe-nos a nós fazer do caminho até lá o mais agradável e inesquecível de todos. Talvez sejamos naus pequenas e frágeis que balançam sobre as ondas do Tejo, mas tal como no passado, também nós podemos ter sucesso e avançar corajosamente rumo ao Atlântico.

2 comentários:

Catarina. disse...

André, parece que Lisboa é uma fonte de inspiração ;)

Adorei mesmo este texto. Acho que está muito bem escrito e gosto das comparações que fizeste.

Eu não sei se o destino está ou não escolhido e não sei se aquilo que fazemos o altera ou nem por isso. Mas sei que se estiver, há várias maneiras de o atingir, há sempre mais que um caminho que podemos escolher... Temos que pensar bem e escolher o que nos parecer melhor.

Eu também estava "Sentado(a) sobre um muro de pedra desgastado pelo tempo, olhava para o rio que um dia viu partir os portugueses na descoberta do mundo. Reparei que eu próprio(a) tenho balançado impavidamente naquelas ondas durante toda a minha vida, como se fosse uma pequena nau que ruma timidamente em direcção ao desconhecido."

A sério que adorei mesmo este texto' Pra semana vamos a Lisboa outra vez que é ora irmos tendo o blog com textos novos!

(Se me tivesses dito que iam pró bar do hotel eu talvez tivesse lá ido! ) *

Beijinhos oh 'tás lindo!'

FAR disse...

ta bom(I)