quinta-feira, 6 de maio de 2010

saudades dos sonhos.

Lembro-me de quando era criança. Lembro-me de quais eram os meus sonhos, do que eu queria para a vida. Lembro-me de ser decidida e de ter objectivos. Claro que naquela idade nem as decisões iam além do sabor do chupa-chupa e da franja que eu própria cortei quando a minha mãe me queria infligir fotografias horríveis para a posterioridade nem os objectivos passam depois da meta de um casamento perfeito com alguém que me amasse desmesuradamente.


Hoje tenho saudades desses tempos. Tenho saudade da simplicidade de pensamentos que atrás ficou. Tenho saudades da ignorância que me permitia acreditar em amores inocentes e possíveis. Tenho saudades de tudo aquilo que eu acreditava ser eterno, imortal.

Tenho saudades da fé. Da fé no mundo e nas pessoas. Principalmente, tenho saudades de acreditar nas pessoas e no meu amor e no delas.

Tenho ainda um sonho guardado. O sonho do amor-perfeito. Porque os contos de fadas não foram feitos para dar às crianças expectativas inocentes. Mas sim, para lhes mostrar que há historias felizes, que nem tudo é negro, que a vida pode e deve ser perfeitamente vivida, tal como nos contos de fadas.

Esse sonho guardado não se mantém intocável. Mudei pormenores e deixei o felizes para sempre, acrescentando o enquanto durar.

Sonho com o meu amor-perfeito. Com aquele que será a sério. Com aquele que me fará perder as incertezas.

O meu amor-perfeito dir-me-ia olhos nos olhos que me amava.
Dar-me-ia a mão enquanto passeássemos ao fim-de-semana, abraçar-me-ia em frente aos amigos e teria orgulho no amor que sentisse.
Escrever-me-ia cartas se soubesse escrever com o coração, pintar-me-ia quadros se soubesse pintar com o coração, cantar-me-ia canções se soubesse cantar com o coração.
Levar-me-ia a sítios sem perguntar onde eu queria ir, teria uma surpresa para mim, far-me-ia feliz dia após dia, sempre sem entrar no ritmo de me ter como adquirida.
Teria ciúmes, pegar-me-ia ao colo e rodopiar-me-ia sem se importar com o estatuto de miúdo que essa atitude lhe daria. Seria indiscreto comigo, seria discreto com os outros.
Teria consciência e não me faria ficar confusa.
Seria inteligente e nunca me tentaria enganar com mentiras estupidamente fáceis de descobrir.
Seria fiel, com o olhar, com o confiar, com o amar.
Dir-me-ia sempre a verdade e seria querido ao ponto de perceber até onde poderia ir a cada instante.
Não esperaria que eu tomasse sempre iniciativa.
Não quereria que eu fosse igual às suas pretensões, não me mandaria ali ou acolá mas faria acordos vantajosos para ambas as partes.
Saberia conquistar-me dia após dia, como se precisássemos de nos apaixonar todos os dias, a primeira vez.

O amor-perfeito que eu guardo, nos sonhos, saberia que seriamos nós contra o mundo. Porque o amor seria tão impossivelmente grande e perfeito, que tudo aquilo que pudesse existir contra, não teria qualquer significado.

O meu amor-perfeito, seria sem dúvida, aquele a quem eu me daria de inteiro. A quem eu me iria dedicar, a quem eu iria prometer, a quem eu quereria agradar e conquistar a cada instante, sempre mais. O meu amor-perfeito seria assim, pleno.

Tenho saudades de ser pequena. Saudades de não saber o que era estar angustiada e de só pensar para fazer equações. Saudades de acreditar que o amor é possível e é fácil, que faz sempre bem e que nos dá a serenidade e a confiança que anima o espírito.

Tenho saudades dos sonhos. Tenho saudades de acreditar que um dia todos se iriam realizar.

5 comentários:

Daniel disse...

Saudade de sonhar...saudade de acreditar...saudade de sentir certezas depositadas na alma de cada um...

Há muito que não comentava o teu blog Catarina, mas perante esta escrita nenhuma opção mais restava...deslumbrante como sempre:)

Gena disse...

Princesa, quem é que não gostaria de voltar a ser pequena? Todos nós gostariamos de voltar a ser crianças, ser a ternura em pessoa, sermos os seres que querem viver como as historias, felizes para sempre. E sabes bem que iremos ser as duas felizes, mas nem tudo é perfeito existem momentos em que estamos bem e noutros não, e é isso que dá estimulo para viver, é isso que acredito todos os dias, em que o dia de hoje será melhor que o de ontem, e se não for mais dias virão, mas sempre com a esperança que o futuro será melhor que o passado.
É preciso acreditar, não desistir dos sonhos, porque depois quando formos velinhas iremos pensar, o porquê de eu não ter feito isto ou aquilo...Acredita mais dias virão, felizes ou tristes, não te poderei confirmar, mas sempre com a certeza que estarei aqui deste lado, para te apoiar em tudo, serás sempre a minha e unica, PRINCESA.
Quanto ao teu amor-perfeito, quem sabe se tudo não se pode concretizar um dia, enquanto a vida há esperança.
Adoro-te minha PRINCESA*
Bjinho*

Irina disse...

Catarina,
Este texto diz tudo! Acho que a maioria das pessoas sente...e as que dizem "não sentir..." mentem ou então não têm sentimentos...
Ao ler o teu texto...identifiquei-me do princípio ao fim... Toda a gente tem sonhos... eu partilho esse teu sonho... E tenho saudades dos meus sonhos de crianças... sonhos... de uma criança inocente e que não conhecia a vida nem sabia o que era desilusões...mas apesar de tudo... esses sonhos mantêm-se até hoje... há sempre uma esperança de realiza-los...

Catarina. disse...

Daniel, eu sei que sou repetitiva. Mas obrigada :)
Mesmo. Fica aqui expressa a minha vontade de te ver na vila de Fermentelos..

Irina, é verdade. A maior parte das pessoas tem sempre falta da infancia. Do cor-de-rosa da vida, das decisoes queridas, das esperanças ternas...
Eu tenho muitas saudades, mesmo. Sei que faz parte irmos crescendo e vivendo com o elevar dos patamares e assim, das dificuldades. Ainda assim, mesmo quando recordar nao traz mudança ao presente, eu gosto de me lembrar de quando tudo era simples e sereno.

Um beijinhoo *

Renata disse...

Este post parece-me um recado para alguém!!lol
Bjinho