Lembrava-se do dia em que se tinham cruzado pela primeira vez. Do bom dia educado que tinham trocado e dos olhares indiferentes e normais de dois estranhos que se vêm pela primeira vez.
Agora que forçava a memória lembrava-se do vestido vermelho que vestia naquele dia e porque o tinha escolhido. Era o dia do seu concerto a solo de violino. E tinham-lhe dito que um vestido elegante deveria ser o mais adequado para a ocasião. E como não gostava de roupas elegantemente adequadas nem de roupas vermelhas, decidiu que não poderia haver melhor combinação do que aquela que fizera. Seguia as regras dos outros, quebrando uma das suas regras. Mas devia ser ao contrário. Devia fugir das regras que lhe ditavam.
No entanto, seria mais uma vez a rapariga politicamente correcta, como sempre fora.
Tinha-se cruzado com o sujeito, originalmente vestido e penteado. Era bonito e mesmo mentindo, não podia negar que o desejou seu desde o primeiro olhar. Forte e sedutor, opostamente a ela, parecia ignorar a existência de normas.
Mas tinha um concerto e um desconhecido, ainda que apetecível, não podia adiar o compromisso. Não seria correcto.
Enquanto caminhava pelo corredor vazio para o ensaio geral antes da estreia, vislumbrou dois vultos também eles politicamente correctos, a cometerem incorrecções naquele espaço apertado. Invejou-os. A sensatez não os impedia de não serem de vez em quando emotivos. E porque tinha ela que ser sempre a melhor, a mais correcta?
Esqueceu-se do ensaio.
Voltou a trás e atalhou por uma passagem que dava acesso à sala convívio dos actores.
Depois, viu-o. Como arduamente desejava.
Falou-lhe em surdina e saiu com ele até ao seu camarim.
Pediu-lhe que se virasse enquanto ela despia o seu vestido elegante e adequado e iria trocar por um adequado e elegante vestido cinzento, que completaria com um penteado simples e com o seu relógio colorido que não poderia levar ao concerto, por ser colorido e inadequadamente deselegante.
Mas ele não seguia regras, como ela sabia. E ela não só sabia como tinha esperança que não fossem os seus pedidos polidos e educados que o fizessem faltar às suas próprias regras (i) morais.
Depois, ficou ali.
Solitário e espectador.
Num cubículo inadequadamente adequado.
Um violino.
4 comentários:
sim claro que sim!
tbm gosto muito da maneira como escreves, mesmo!
Não me conheces, mas sabes muito mais sobre mim do que muita gente (apenas por leres os meus textos).
p.s- os textos são todos meus, quando ponho algum nome entre () é porque é dedicado a essa pessoa! :'D
beijinho querida! ( x
"Tens valores simples e bons e a vida para ti, tem que ser vivida ao momento!" disses-te tudo agora! :o
Esse pequeno violino que nunca deve ficar parado.. o violino que faz a tua própria música.. onde somente tu és o compositor e músico principal *
Sabes sempre como tocar-me! E melhor, sabes fazê-lo sempre bem!
E olha, agora uma coisa que não tem nada (ou tem alguma coisa) a haver com os teus textos e com as tuas palavras que me deixam sempre nostálgica e me surpreendem sempre pela positiva...
Até podemos nem falar muito, não contarmos tudo o que nos acontece uma à outra, estar todos os dias juntas e esses afins todos, contudo sei que diga-te o que disser tu vais-me entender, não só porque és uma pessoa compreensiva e imparcial, mas porque sentes e pensas como eu. E vou-te contar um segredo.. Ás vezes, quando me sinto insegura ou desiludida quanto àquilo que sou, não preciso de muito para voltar logo logo ao estado normal e a sentir-me melhor. Eu revejo-me em ti... És como que um espelho para mim e, quando estou insegura quanto à minha personalidade, acredita que te procuro. Procuro encontrar qql pedacinho de ti, do meu espelho. Só assim, vendo e admirando os reflexos que emites me consigo sentir melhor e mais confiante. E sorrio... Sorrio porque te olhei e sorrio porque me revi!
Eu adoro-te, minha Catarina :) *
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