São quatro horas da manhã e estou finalmente sentado! Parece mal estar a dizer isto, já que acabei agora mesmo de vir do cinema onde estive duas horas sentado a ver o último filme do Harry Potter, mas acontece que as cadeiras dos cinemas são estranhamente desconfortáveis. Pergunto-me se não poderiam fazer uma pausa no avanço dos telemóveis e dedicarem-se à qualidade das cadeiras das salas dos cinemas? Talvez vos pareça esquisito falar logo em telemóveis, mas hoje incomodaram-me particularmente. Ao que parece, para algumas pessoas, uma ida ao cinema não envolve apenas um ecrã. Colam-se aos pequenos aparelhos electrónicos como se uma sms lhes salvasse a vida. E a avaliar pela quantidade de mensagens, meu deus, a insegurança deve estar mesmo a aumentar.
No entanto, o que me levou a escrever este texto não foi propriamente a minha ida ao cinema, embora me tenha feito pensar no assunto. Hoje reparei que as pessoas têm a mania de fazer sempre algo a mais, algo que não faz falta e que não precisam. Por exemplo, no cinema não há necessidade de usar telemóvel, comer pipocas ou beber Coca-Cola. Mesmo assim, toda a gente o faz como se isso acrescentasse alguma coisa ao filme. A verdade é esta: o ser humano tenta sempre completar o que já está simples e completo.
Hoje, antes de ir ao cinema, uma amiga levou-me a um bar novo que ainda não conhecia. Ao entrar, um de nós fez logo uma exigência: zona de fumadores. Rapidamente iniciámos uma pormenorizada inspecção à qualidade do estabelecimento. Não estava muita gente, o que é um ponto negativo. Era noite de caipirinhas e não de cerveja. Ouvia-se House em vez que musica Reggae. Sentámo-nos numa mesa baixa, mas logo eu insisti em mudar para uma mais alta apenas porque tinha uma velinha que me parecia acolhedora. Gostei do cocktail só porque tinha uma rodela de laranja e uma pequena cereja, mas fiquei com inveja do da minha amiga porque o dela tinha um chapéuzinho de chuva, além do facto de eu ter um copo normal e ela ter uma taça. Assuntos importantes para quem quer manter uma amizade! Passado pouco tempo fomos embora, o tecto era muito alto para um bar.
Em suma, onde quero chegar com esta descrição é à pergunta: porque não nos contentamos com coisas simples e queremos sempre algo diferente? Não estaria eu agora, às quatro e quinze da manhã, muito mais satisfeito se não tivesse feito tantas avaliações sobre o que me rodeava?
Reparem no cenário: primeiro tinha ido a um bar novo com amigos (que excitante, algo diferente para variar!). O bar era perfeito. Tinha zona de fumadores. O tecto era alto, assim circulava mais ar. Era noite de caipirinhas, óptimo para quem gosta. Ouvia-se música House (que bom, muitos bares nem sequer têm música) A mesa era baixa, mas nem me importei com isso. Os cocktails vinham em copos diferentes e com enfeites (giro, não se vê disto todos os dias). E as velas? Quem precisa de velas para falar com os amigos? Ficavam bem na outra mesa. No final da noite fui ao cinema. Cadeiras desconfortáveis e a luz irritante de um telemóvel que uma rapariga usava desenfreadamente. Who cares? O que interessa é que vi o filme.
Não teria tudo sido, assim, perfeito? Claro que sim, mas agora sei que a insatisfação é inevitável. Queremos sempre algo que não temos e isso leva-nos a aproveitar menos tudo aquilo que nos rodeia. Mas nem tudo é mau: escrevi um texto no blog e deixo uma sugestão. Deviam pôr rodelas de laranja e uma cereja nas cadeiras do cinema. Talvez ajudasse! Deixem-me contar-vos um pequeno segredo: eu não gostei propriamente do sabor do meu cocktail, mas adorei o facto de ter enfeites.
1 comentário:
Oh amor eu não mandei assim tantas mensagens e as que mandei foram quase todas para a Renata! Vá, não sejas assim tão ciúmento!
Sabes que amar, eu só te amo a ti e que as mensagens que mando aos outros não significam nada ;) mas continuando.. o quêeee?? ficas-te com inveja do cocktail da tua amiga só porque o dela tinha um chapéuzinho de chuva?? CHAPÉUZINHO DE CHUVA André?? onde?? acho que andas-te a imaginar. não havia lá chapéu algum, havia apenas um pedaço de ananás (ou abacaxi - não cheguei a provar) encaixado no copo que defines como taça e uma cereja espetada dentro de um palito enfiado lá dentro, que por sinal, era tão boa que nem o João a comeu! ;) És tão mentiroso! Se tivesses tido ciúmes tinha-lo bebido até porque ela não gostou minimamente dele apesar dos enfeites! Mas siga.. esqueceste-te de falar aí na nossa ida às compras, nas tuas paragens súbitas, na tua alegria quando fomos pagar a conta do "plat de crevettes et de champignons dans le grenier" ou o raio que te parta, nos filmes que vimos que decerto inspirarão o livro que um dia vais escrever (pois sim lol), na nossa viagem de barquinho e na nossa viagem pela rodinha e já agora pelo comboio, nos nossos sorvetes deliciosos que tão bem nos souberam bem como de outras coisas que de momento não me estão a ocorrer.
E agora a falar asério. Desta vez até acho que tens razão! Nós queremos sempre algo que não temos ou que não precisamos, o que nos leva a aproveitar menos tudo aquilo que nos rodeia mas, por outro lado, nos leva a ganhar algo por que não esperávamos!
Por exemplo, senão fosses tão ciumento e não te tivesses preocupado tanto com o facto de teres uma amiga sentada ao pé de ti a mandar mensagens (que não era necessário) e tivesses aproveitado melhor aquilo que realmente interessou no momento, neste caso, o visionamento do filme do Harry - e não só (que era o essencial), certamente que agora saberias alguns pormenores do filme que te escaparam e não terias elaborado um texto melhor que o meu! Parabéns! (finalmente mostraste-te superior a mim em qualquer coisa! Festeja. Não é todos os dias que o consegues fazer ;D)
Beijinho rato*
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